“Se cortarem o benefício, eu vou ser despejada. Não vou ter onde morar. Não tenho alternativa. Vamos para a rua.” O desabafo de Maria Madalena Rangel, mãe de um jovem autista, resume o drama enfrentado por dezenas de famílias que deixaram os predinhos da CDHU, no Conjunto Habitacional Paulo Lúcio Nogueira, zona sul de Marília. O antigas moradores vivem agora à base do auxílio-aluguel, sem saber o que acontecerá quando o benefício for encerrado.
Madalena conta que entrou em desespero ao descobrir que a carta de crédito oferecida pelo Estado é de R$ 10 mil — valor insuficiente para adquirir qualquer imóvel. “Quando ouvi que teria que procurar uma casa com uma carta de R$ 10 mil, me bateu o desespero. Eu tenho um filho autista e não sei para onde vamos quando o auxílio acabar.”
Ela explica que vive do Benefício de Prestação Continuada (BPC), via Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), e teme perder a renda se aceitar um financiamento. “A moça da Caixa me disse que, se eu fizer financiamento, eu perco o Loas. Então é ou a moradia ou o benefício. E eu preciso dos dois.”
A situação não é diferente para Suzana Silva, que morava no conjunto desde 1998. Ela conta que o apartamento estava quitado e com escritura registrada, mas até agora nenhuma proposta oficial foi apresentada.
“Estão oferecendo uma carta de crédito de R$ 10 mil, mas ninguém sabe como usar isso. Falam que o auxílio dura seis meses e depois acaba. A Caixa não sabe de nada, os empreendimentos não sabem de nada. E a gente fica sem saber o que vai ser da vida.”
Suzana diz que não pretende sair da zona sul, onde toda a rotina da família está estruturada. “Minha vida é aqui. Se for para a zona norte, por exemplo, meu marido e meu filho vão ter um gasto que não tínhamos com deslocamento para trabalhar.”
Ela critica a falta de planejamento e cobra do poder público uma solução definitiva. “Se a CDHU é a única interessada no empreendimento, por que não reformar ou reconstruir ali mesmo, financiando novamente para os antigos proprietários? Seria mais justo do que jogar as pessoas para o outro lado da cidade.”
Caso a reconstrução não ocorra, Suzana defende a inclusão das famílias em programas federais como o Minha Casa, Minha Vida, que permite financiamentos com parcelas mais acessíveis. “A maioria das famílias do CDHU tem nome sujo, são idosos ou pessoas com deficiência. Ninguém vai conseguir comprar uma casa com carta de crédito de R$ 10 mil. Isso é impossível.”
As duas contam que participam de reuniões na tentativa de obter respostas, mas saem sempre com mais dúvidas. “A gente vai achando que vai ouvir algo útil, mas não muda nada. O que dá a entender é que o Estado e a Prefeitura não querem o retorno dos antigos moradores ao conjunto”, afirma Madalena.
O conjunto Paulo Lúcio Nogueira, inaugurado há 27 anos com 880 apartamentos, foi interditado por risco de desmoronamento. Moradores afirmam que a promessa inicial era de reforma, não de demolição. “Se soubéssemos que não poderíamos voltar, ninguém teria saído. Disseram que seria uma reforma, e o processo judicial movido pelos moradores fala em reforma, não em demolição”, diz Suzana.
Com o fim do auxílio se aproximando, a incerteza domina o cotidiano. “Muita gente quitou seus apartamentos, trabalhou uma vida inteira. Não é justo sair de uma moradia digna para viver de aluguel, sem saber o que vai acontecer depois”, conclui Suzana.
OUTRO LADO
Em nota ao Marília Notícia, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e a Prefeitura informaram que estudam soluções para atendimento das famílias. “Atualmente, as famílias estão sendo recebidas por equipes da Companhia e pelo município para atualização cadastral, o que permitirá a busca por soluções individualizadas, conforme a situação de cada cidadão (proprietário, locatário, invasor, proprietário com contrato de gaveta, entre outros). As ações também são acompanhadas pela Justiça, Ministério Público e Defensoria Pública. Enquanto isso, todas as famílias retiradas emergencialmente dos prédios, por determinação judicial, recebem auxílio-moradia temporário custeado pelas gestões. Até o momento, cerca de 500 famílias compareceram ao plantão de cadastramento e aguarda-se o comparecimento das quase 200 restantes.”
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