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Ebanx acerta compra da Remessa Online por R$ 1,2 bilhão

Conhecida por processar pagamentos para gigantes estrangeiras como Spotify, AliExpress e Uber em moeda local, a startup curitibana Ebanx está se consolidando como um ecossistema de operações financeiras para pagamentos e transferências internacionais. A empresa anunciou nesta quarta-feira, 15, a compra por R$ 1,2 bilhão da Remessa Online, fintech brasileira especializada em serviços de remessas internacionais para pessoas físicas e pequenas e médias empresas (PMEs) – é o maior negócio da história do Ebanx.

O acordo prevê que os fundadores da Remessa Online continuem liderando a nova divisão de remessas do Ebanx, que passa a atender também clientes de grande porte. Além disso, a Remessa Online seguirá com a parceria com o Nubank, anunciada em julho, para transferências bancárias internacionais no app do banco digital.

Wagner Ruiz, cofundador do Ebanx, explica que a aquisição é mais um passo na estratégia de crescimento do unicórnio curitibano, que olha para além do e-commerce. “Queremos facilitar o acesso de consumidores, pequenas empresas e gigantes globais a pagamentos e transferências internacionais. Há muitas companhias que fazem remessa internacional, muitas que fazem pagamentos, mas não existe ninguém que consolide o mercado de pagamentos internacionais, seja para usuário final ou para companhias”, afirma o executivo, em entrevista ao Estadão.

Fundada em 2016 pelos veteranos do mercado financeiro Alexandre Liuzzi (ex-Santander e JP Morgan) e Fernando Pavani (ex-Itaú e Franklin Templeton), a Remessa Online permite que brasileiros recebam pagamentos do exterior e que enviem dinheiro para fora do Brasil. Um dos principais mercados da empresa é atender profissionais como designers e desenvolvedores que prestam serviços para o exterior – um dos nichos de atuação da fintech é o mercado de produção de conteúdo, em que influenciadores recebem a monetização de plataformas digitais em dólares.

A Remessa Online começou atendendo pessoas físicas e, em 2019, passou a oferecer seu serviço para pequenas e médias empresas. A startup diz que é responsável por um terço do mercado de envios por pessoas físicas no Brasil – ao todo, a fintech soma US$ 5,2 bilhões movimentados desde seu lançamento e mantém crescimento médio de 130% desde 2017. No ano passado, a Remessa Online havia recebido um aporte de R$ 110 milhões em rodada liderada pelo fundo argentino Kaszek Ventures – também participaram do cheque o fundo Bewater Ventures e Kevin Efrusy, sócio do fundo americano Accel Partners, que já investiu em empresas como Facebook e Dropbox.

Fronteiras invisíveis

O terreno de pessoas físicas e PMEs não é novo para o Ebanx. Em 2020, a empresa lançou o Ebanx Go, uma conta digital gratuita com cartão pré-pago e cashback em sites internacionais – o serviço tem atualmente 180 mil usuários, segundo a empresa. Há também o Ebanx Track, uma ferramenta de rastreio de compras nacionais e internacionais. Além disso, a startup finalizou em outubro a aquisição da fintech Juno, que oferece serviços bancários como cobrança, pagamento e conta digital, para ajudar empreendedores brasileiros a venderem na internet – a Juno atende cerca de 35 mil pequenas e médias empresas brasileiras e passará agora a oferecer a solução da Remessa Online para seus clientes.

Para Diego Perez, presidente da ABFintechs, a estratégia do Ebanx conversa com um panorama maior. “As fronteiras estão cada vez mais invisíveis no mundo digital, principalmente após a pandemia. É comum empresas brasileiras contratarem desenvolvedores de outros países e terem operações fora do País sem um escritório físico. Mas isso envolve pagamentos transfronteiriços de todas as magnitudes”, afirma.

No mercado de transferências internacionais, a Remessa Online compete no País com nomes como a Wise, empresa britânica conhecida anteriormente como TransferWise. Para Alexandre Liuzzi, cofundador da startup, a Remessa Online tem a seu favor o conhecimento nativo. “Não é simplesmente trazer uma plataforma de fora. O Brasil tem muitas exigências regulatórias e processos de registros, e entendemos de perto a dor do cliente”, afirma.

Rumo à bolsa

O Ebanx atingiu status de “unicórnio” (ou seja, foi avaliada em mais de US$ 1 bilhão) em outubro de 2019 após um aporte de valor não divulgado do fundo FTV Capital. Em junho deste ano, a empresa recebeu um cheque de US$ 430 milhões e sinalizou que faria aquisições.

A aquisição acontece enquanto o Ebanx se prepara para a abertura de capital: em outubro, a empresa deu entrada no pedido de IPO, segundo a agência de notícias Bloomberg, em uma operação que pode avaliá-la em mais de US$ 10 bilhões. Um referencial importante de preço para a startup em Nova York é a Dlocal, empresa de pagamentos uruguaia que fez um IPO de sucesso na Nasdaq, em junho. A Dlocal teve forte demanda, captou US$ 618 milhões e chegou a ser avaliada em US$ 11 bilhões. A abertura de capital do Ebanx é esperada para o começo de 2022.

Para especialistas, a compra da Remessa Online aquece os motores para o IPO. “O Ebanx precisa demonstrar para o público investidor que tem capacidade de alcançar resultados. E uma das estratégias usadas pelas grandes fintechs é manter o crescimento exponencial por meio de aquisições”, diz Perez.

Na visão de Pedro Tonhozi, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV, a aproximação com o consumidor final também chama a atenção. “Esse movimento traz uma força de marca. Não é todo mundo que conhece o Ebanx hoje – muita gente sabe apenas que é uma empresa que aparece no pagamento de Spotify, por exemplo. A aproximação com a pessoa física fortalece o nome”, diz.

Com as oportunidades postas à mesa, o valor alto do acordo se justificou, diz Ruiz. “Olhamos para os números, claro, mas estamos comprando o potencial de crescimento da Remessa Online”. Ele não comenta sobre a abertura de capital, mas afirma que “independente de IPO, o acordo contribui para o crescimento do Ebanx, que é o que queremos no final do dia”.

Olho na Ásia

Sob o guarda-chuva do Ebanx, a Remessa Online também terá um atalho para internacionalizar suas operações, que até então estavam restritas ao Brasil. O unicórnio curitibano está presente em 15 países na América Latina (Brasil, México, Colômbia, Chile, Peru, Argentina, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Guatemala e República Dominicana) – aproximadamente 50% da operação do Ebanx hoje é internacional, segundo Ruiz.

México, Chile e Colômbia devem ser os primeiros países a receber o serviço da Remessa Online, diz o cofundador do Ebanx.

Do outro lado, a aquisição também deve abrir novas portas de expansão internacional para o Ebanx. “A Remessa Online também vai nos ajudar na internacionalização em outros países onde o pagamento em si não é o grande problema. Recentemente, começamos a olhar para países no Sudeste Asiático, na África e no Leste Europeu”, afirma Ruiz.

Agência Estado

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