Entrevista da Semana • Marília Notícia https://marilianoticia.com.br/categoria/entrevista/ Aqui você lê a verdade! Tue, 26 Nov 2024 13:14:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.5 ‘Infelizmente, não é o momento para Copinha em Marília’, diz futura secretária https://marilianoticia.com.br/infelizmente-nao-e-o-momento-para-copinha-em-marilia-diz-nova-secretaria-de-esportes/ Sun, 24 Nov 2024 12:00:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=621927 A nova secretária de Esportes de Marília, Valéria Cavecci, indicada pelo prefeito eleito Vinicius Camarinha (PSDB), tem uma longa e rica história com o esporte. Sua paixão começou ainda na infância, em Avaré, onde jogava basquete e handebol. Valéria chegou a atuar profissionalmente no basquete pela Unimep em Piracicaba, quando jogou contra grandes nomes da […]

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Valéria Cavecci é a nova secrertária de Esportes de Marília (Foto: Divulgação)

A nova secretária de Esportes de Marília, Valéria Cavecci, indicada pelo prefeito eleito Vinicius Camarinha (PSDB), tem uma longa e rica história com o esporte. Sua paixão começou ainda na infância, em Avaré, onde jogava basquete e handebol. Valéria chegou a atuar profissionalmente no basquete pela Unimep em Piracicaba, quando jogou contra grandes nomes da modalidade como Paula e Hortência.

Em 2002, sem conhecer Marília, Valéria mudou-se para a cidade com um objetivo: criar um time de basquete feminino. Com um projeto inovador em mãos, conseguiu apoio da Prefeitura e de patrocinadores, onde formou uma equipe que conquistou títulos importantes, como os Jogos Abertos e a Série A2.

Depois disso, Valéria se dedicou à gestão de academias, atuando em grandes redes como SkyFit e SmartFit. Sua experiência no esporte profissional e na administração esportiva a prepararam para assumir o desafio de comandar a pasta de Esportes, Juventude e Lazer em Marília.

Valéria Cavecci se considera uma mariliense de coração e quer transformar a realidade esportiva na cidade de Marília. Em sua gestão, pretende priorizar a reestruturação dos polos esportivos, buscando parcerias com empresas e o governo federal para investir em infraestrutura e oferecer melhores condições de treinamento aos atletas.

Seu objetivo é resgatar a importância do esporte como ferramenta de inclusão social e desenvolvimento humano, tanto para jovens quanto para idosos. A futura secretária acredita que o esporte de alto rendimento pode inspirar as novas gerações e colocar Marília em destaque no cenário esportivo nacional.

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MN – Como você veio para Marília?

Valéria – Vim para Marília em 2002. Minha infância foi em Avaré. Minha família toda é de Avaré. Vim para cá por um história muito engraçada. A gente tinha uma equipe de basquete lá. Por ser uma cidade pequena, não havia recursos para gente buscar. Eu peguei o mapa, fechei os olhos e coloquei o dedo em um ponto, justamente em Marília. Eu sempre tive um projeto esportivo de basquete e decidi vir, então, para Marília.

Valéria foi candidata para o cargo de vereadora, apoiando Vinicius Camarinha (Foto: Divulgação)

MN – Você não conhecia a cidade?

Valéria – Não sabia onde ficava, nem qual era a distância. Naquela época não tinha o Waze e nem nada disso ainda. Vim com a cara e a coragem. Liguei para o telefone da Secretaria de Esportes. Na época o secretário era o Paulo Ramiro e o prefeito era o Abelardo Camarinha.

MN – Como foi seu primeiro contato com a cidade?

Valéria – Tive a oportunidade de vir até Marília. No mesmo dia, eu apresentei um projeto e eu lembro muito bem quando ele me disse que nunca ninguém tinha montado um projeto esportivo como o que eu apresentei. Me disseram que não tinham recursos para bancar um patrocínio para montar uma equipe que ia disputar o campeonato da Série A2. Eu disse que não queria patrocínio, mas que me desse pelo menos o básico. Me deram transporte, alimentação e moradia. Tinha um alojamento de atletas.

MN – Você correu atrás dos patrocinadores?

Valéria – Eu lembro que, na época, a Doris também trabalhava na Secretaria de Esportes e ficou sabendo. Ela gostava de basquete e me colocou em contato com o senhor Olinto, que era o diretor lá do Colégio Cristo Rei. Eu precisava de uma verba, cheguei até ele e apresentei o projeto. Ele falou a mesma coisa, que nunca ninguém trouxe um projeto para ele. Todo mundo pedia verba, mas nunca com um projeto, com projeção de resultados e retorno. Então eu consegui um pouco de auxílio, [depois] no Fisk, depois fui na Unimed… Aí foi completando. Então, eu montei o time de basquete feminino para disputar a A2.

MN – Como foi o desempenho desse time?

Valéria – Fomos campeãs dos Jogos Abertos, campeãs da Série A2. Essa foi a nossa jornada até chegar na Série A1. A gente conseguiu montar equipes com renomes nacionais, de nível de Seleção Brasileira. Foi uma trajetória muito boa que a gente teve. Depois mudou o prefeito e também encerraram os patrocínios. Pouco depois entrei no ramo de academia.

MN – Como foi essa mudança?

Valéria – Fui gerente da academia SkyFit e fui gerente regional depois. Fui gerente de unidade da primeira academia de rede na cidade. Virei gerente regional, depois fui gerente da SmartFit. Agora atualmente eu estou como gerente da academia SkyFit, que fica ali na Tancredo Neves, até o final deste ano.

Valéria Cavecci ao lado da ex-jogadora ‘Magic’ Paula (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como começou o contato seu com o esporte?

Valéria – Foi em Avaré. Minha irmã jogava basquete e ela me chamava para bater uma bolinha. Tinha o Raimundão que revelava jogadoras. A Paula e a Hortência são um pouco mais velhas do que eu, e jogavam. Foi nessa época que eu comecei com o basquete. Primeiro atuando e depois fui treinadora de basquete em Avaré. Primeiramente fui diretora, depois eu virei treinadora. Trabalhei com handebol também. Fui jogadora e preparadora física. Eu amo esporte, de verdade. Está no meu sangue.

MN – Você chegou a atuar profissionalmente como jogadora?

Valéria – Sim, na Unimep em Piracicaba, quando eu fiz a faculdade. Eu tive a oportunidade de jogar em Piracicaba na Unimep, que teve a Paula, que foi uma das melhores equipes a nível nacional.

MN – Você chegou a jogar com ela?

Valéria – Não. Eu tenho uma amizade com a Paula, mas não joguei junto. Quando entrei no time, ela tinha ido para o BCN, também de Piracicaba. Eram dois times da cidade. Joguei várias vezes contra ela e contra a Hortência. A gente perdia feio, mas tá bom. A gente sempre aprendia muito enfrentando elas. O importante é sempre aprender.

MN – Como que era jogar contra elas?

Valéria – Era fora da média. Hoje a gente vê no esporte nacional, tanto no basquete feminino como outras categorias, que falta planejamento. Se você não tem uma base boa, você perde todo o trabalho. Depois dessa geração da Paula, Hortência e Janete, a gente não teve mais. Perdemos a característica do ídolo do esporte.

MN – Você sabe dizer qual o nome do basquete feminino hoje?

Valéria – Eu não consigo te falar, porque não se formou nenhum ídolo. Vamos falar um pouco do vôlei. O vôlei teve uma mudança, tanto no vôlei masculino quanto no feminino. Hoje tem uma geração que está chegando, uma geração ótima, porque vem de uma base boa. O vôlei sempre tem que ser uma escola para a gente na questão de planejamento. Eu acho que a maioria das modalidades se perdeu por falta de planejamento.

Valéria Cavecci com o time máster de basquete (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Você acha que as competições perderam a importância?

Valéria – Os Jogos Regionais e Jogos Abertos perderam a importância. Hoje, para quem acompanha o esporte, não tem mais aquela ansiedade e expectativa. A gente ia para um ginásio antigamente e assistia o jogo da Hortência e da Paula, tinha sempre o ginásio lotado. Não cabia mais gente. Aquilo arrepiava, aquele ginásio lotado, aquela gritaria. Hoje você está estragando os Jogos Regionais, os Jogos Abertos. Cada vez mais. Eram nessas competições que preparávamos nossos atletas. A gente se sentia importante. Era um orgulho vestir a camisa da cidade. A gente precisa resgatar isso.

MN – Sua infância foi com envolvimento no esporte?

Valéria – Foi dentro do esporte. Nunca me envolvi com drogas. Nunca fui uma pessoa de ficar em barzinho ou de sair. Sempre tive uma vida regrada. Hoje eu sou grata. Muitas crianças hoje estão se perdendo, porque não têm uma atividade. A gente precisa resgatar os sonhos da nossa juventude.

MN – Pretende ter um olhar também para os idosos?

Valéria – Até esse ano eu estava como treinadora da equipe máster de basquete de Bauru. Hoje está se falando muito no máster. Nós estamos falando de saúde mental. Existem campeonatos mundiais e não é só no basquete. Eu estou falando de vôlei, de handebol. Hoje está se resgatando isso. Já existem projetos dentro do governo federal, que estão sendo aprovados para verba de incentivo nessa categoria. Precisamos ter ocupação para as crianças, mas também para os idosos.

Valéria Cavecci como treinadora de basquete (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – O que falta para Marília ter equipes profissionais em diferentes esportes como Bauru?

Valéria – Falta estrutura. Para você ter uma ideia, estou com alguns atletas treinando na SkyFit. Eu saí candidata a vereadora e fiquei indignada. Alguns atletas foram me procurar, pois precisavam de um local para treinar. Temos um medalhista dos Jogos Pan-Americanos que não tinha esse apoio. Conversei com meus franqueados, que também são apaixonados pelo esporte e criamos alguns planos para atletas. Começaram a aparecer alguns, que se destacam muito no atletismo e outros esportes. Quando eles chegam na academia, é gratificante. O treino deles é diferente.

MN – Acredita que o caminho é buscar parcerias?

Valéria – Isso mostra a importância de parcerias. É isso que a gente precisa. Isso me incomodou demais e eu questionava o Vinicius. Perder atletas para outras cidades com polo esportivo muito além do que a gente pode oferecer no momento, tudo bem, mas estávamos perdendo atletas para Tupã. Existe uma necessidade de mudança, de apoio.

MN – A Prefeitura de Bauru oferece apoio para os atletas?

Valéria – Eu tive convívio com a prefeita de lá. O que a Prefeitura dá é o mínimo do mínimo. Acho que não ajudam nem o vôlei e nem o basquete. Tanto é que o ginásio de esportes Panela de Pressão é do Noroeste. O vôlei conseguiu construir um ginásio, mas fez a parceria com o próprio Sesi lá na cidade. Tudo isso acontece através de lei do incentivo fiscal. Tudo através de projetos e programas.

MN – Você pretende trabalhar com equipes de alto rendimento?

Valéria – Claro que vamos, mas não posso depender da verba do município. Porque, além de ter categorias de base, eu tenho que pensar nas atividades físicas, que serão feitas no decorrer do ano, dos fins de semana. Eu preciso trazer eventos diferentes para a cidade. Eu preciso atender aquele pessoal dos bairros, de outras comunidades que não contam com acesso à praça esportiva, mas eu não vou esquecer em nenhum momento do esporte de alto nível, porque esporte de alto nível resgata aquilo que eu te falei. Sonhos daqueles adolescentes e daquelas crianças. Existe a lei do incentivo fiscal e a gente tem como buscar esses recursos. Só precisamos nos mexer, criar planejamento e correr atrás.

Valéria Cavecci durante entrevista na Record Paulista sobre basquete (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como você vê a estrutura do atletismo em Marília?

Valéria – É um absurdo, primeiramente, o que a gente tem em termos de estrutura para eles. É inviável. Eu acho que vai ser um dos primeiros pontos que eu quero sentar com o Vinicius, para a gente tentar estruturar. Eu não tenho uma infraestrutura para eles treinarem. Eu fui lá ver a academia dos nossos atletas paralímpicos e achei um absurdo. Eu vou tentar fechar convênios com academias para que possam abraçar a ideia. Não é competição de academia, não é nada, é apoiar o esporte em Marília. É dar uma ajuda numa estrutura melhor. Se não ajudar, a gente vai correr atrás, nem que a gente monte uma estrutura de uma academia. De repente, a gente fecha com uma faculdade, com um departamento de nutrição, fazendo estágio com atletas.

MN – Então você acredita que é preciso melhorar a estrutura para os atletas?

Valéria – Não adianta eu dar o apoio para eles competirem, se eu não tenho estrutura. Já está no radar. Se vocês pegarem o plano de governo do Vinicius, que inclusive eu ajudei a montar, vão ver que queremos mexer no estádio Pedro Sola. Vamos melhorar aquela quadra. Vamos melhorar aquela pista de atletismo, que está inviável. Quais os materiais necessários? Qual é o custo disso? Onde podemos levantar essa verba para a gente? A gente não vai prometer. Primeiro eu preciso ver a situação de como estão os polos esportivos. Não adianta eu pensar em equipes de alto nível, se eu não tenho onde colocar. Onde vão treinar? Primeiro a gente tem que estruturar, ter condição de material esportivo, tanto uniformes, bolas, tudo que for necessário. Isso é o mínimo. Uma estrutura.

MN – Você acredita que vão conseguir fazer tudo que é preciso?

Valéria – Vamos analisar. Se num primeiro momento a gente conseguir mexer em todos os polos esportivos, ótimo. Se não der e pudermos mexer só em um ou dois, vamos indo aos poucos. O ginásio municipal que a gente tem, precisamos fechar um convênio com a Secretaria da Educação. Fui apresentada com outras quatro mulheres. Nós conversamos e já vamos marcar uma reunião, nós cinco, porque elas são secretarias interligadas.

Valéria Cavecci ao lado de Vinicius Camarinha durante campanha (Foto: Divulgação)

MN – Você pretende correr atrás de convênios com escolas particulares?

Valéria – Vamos ver o que a gente consegue de bolsas para incentivar essa molecada. Se você quiser um esporte, treinar certinho, você pode ter uma bolsa de estudos. Se a gente começa fazendo o certo, tem que terminar certo. Tem que trabalhar e ter projetos. Tem que ter programa. Se não tiver, não dá certo. Sem planejamento não dá certo.

MN – Marília pode finalmente ter uma pista de atletismo profissional?

Valéria – Isso está no nosso radar. A gente só vai ver a estrutura e valores, porque a gente sabe que também não é barato. Não vai dar para a Prefeitura bancar. Não podemos pegar a verba da Secretaria de Esportes e injetar totalmente, porque aí acaba tudo e não tem mais nada. Precisamos do incentivo de empresas parceiras e recurso federal. Isso vai fazer parte do meu radar. É correr atrás para regularizar o Pedro Sola, principalmente a parte do atletismo.

MN – Você já sabe como estão as instalações do esporte em Marília?

Valéria – A gente não sabe, atualmente, o que a gente vai encontrar. Vai ter a transição de governo. Então, logicamente, a gente vai traçar já um planejamento, mas não sabemos como a gente vai encontrar. A partir do momento que a gente for estudando, vendo a atual situação, a gente vai priorizar o que é importante.

Valéria Cavecci com Pia Sundhage, ex-técnica da Seleção Brasileira de futebol feminino (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quais são as principais reclamações que você ouviu das pessoas caminhando pela cidade?

Valéria – Abandono. Eu acho que a palavra é essa. Abandono dos polos esportivos, abandono de modalidades esportivas, um pouco ou quase nada de recursos para manter. Eu tive várias reclamações de atletas, que muitas vezes eles tinham que pagar até o motorista do ônibus ou da van que levavam eles. Quer dizer, um verdadeiro absurdo. Precisamos ver toda a frota de ônibus. Não dá para assumir uma responsabilidade de ônibus precários para levar atletas. Você não pode colocar em risco a vida desses atletas. Preciso ver até onde está a segurança deles. Vamos fazer tudo com muita cautela.

MN – Como você vê a situação do Marília Atlético Clube? Principalmente nas recentes propostas de instalação de telão e troca de gramado?

Valéria – Lógico que a gente se preocupa com o MAC. Queremos colocar ele no cenário que ele tem que estar, disputando as melhores competições, desde as categorias de base. Quando foi retirado de trazer a Copinha para cá, foi correto. Infelizmente, não é o momento para Copinha em Marília. Não adianta gastar um dinheiro desse. Não adianta apenas gastar o valor, sendo que a gente não está podendo receber bem as equipes. A parte do gramado e do placar, tudo vai ser visto, tudo tem que ser analisado. Eu acho que tem que ter parceria. Lembrando que a equipe de futebol é uma empresa privada. Ter o apoio é uma coisa, mas ter dependência exclusiva da Prefeitura, isso vai ser impossível.

MN – De que forma a Prefeitura poderia ajudar o MAC?

Valéria – Dá para irmos juntos atrás de recursos federais, estaduais ou de patrocínios. Podem contar comigo. Faço questão de ajudar, pois quero ver o MAC lá em cima, mas dentro das nossas limitações. Não vou falar que vamos colocar o MAC nos melhores cenários. Primeiramente, precisamos ver a situação de como está a Secretaria de Esportes. Precisamos ver quais convênios foram fechados entre Prefeitura e MAC. Vamos estar de braços abertos para receber e ver como vamos poder ajudar. Se você for ver bem, a Prefeitura de Bauru também não ajuda em nada o Noroeste. Os outros municípios, não quero ser injusta de estar aqui falando, mas se ajudam, ajudam com o mínimo. Nós já estamos cedendo um estádio. Nossa intenção é de ajudar, sem dúvidas, inclusive, eu quero estar lá apoiando, assistindo jogos, podendo auxiliar no que for preciso, mas dentro das nossas limitações. Ele não pode ser o principal, a Prefeitura não pode ser o principal patrocinador, isso não tem como.

MN – Deve realizar alguma auditoria no Esporte em Marília?

Valéria – Uma coisa que eu quero conversar com o Vinicius é para fazermos uma auditoria. Provavelmente vamos fazer. Acho que isso é normal da transição de governo. Eu acredito que a Secretaria da Saúde deva ter uma auditoria, para a gente ver a real situação. De repente, podem ter feito um monte de empenho, feito dívidas, que a gente vai entrar o ano tendo que pagar. Eu tenho uma Secretaria de Esportes que, de repente, já começa com zero, ou pior, no negativo, isso quebra as pernas.

MN – Como foi o convite para ser secretária?

Valéria – Eu saí como candidata para vereadora, porque eu tinha ficado indignada com a situação do esporte na cidade, mas eu queria muito sair pelo lado do Vinicius, pelo partido dele que é o PSDB. Sempre fui fã da família Camarinha. Vejo a seriedade e o quanto ele está sedento por uma mudança. Fui em todas as reuniões e fui anotando as necessidades de cada bairro. Sentei com a equipe de planejamento, coloquei no papel e falei sobre o que achava da importância do esporte e me coloquei à disposição dele. O que fosse necessário, independente de ser ou não secretária, mas eu queria fazer algo pelo esporte. Eu já me via capacitada para isso. Saber que você pode fazer a diferença na vida das pessoas. Sempre eu tive esse intuito, vou ser bem sincera. Eu sempre tive o intuito de ajudar as pessoas. Sempre foi esse meu lema de vida. Eu gosto de ajudar as pessoas. Eu gosto de estar com pessoas. Eu gosto de desenvolver pessoas.

MN – Você já se sente uma mariliense?

Valéria – Tem muito tempo. Eu já tenho uma casa aqui. Fico mais aqui do que em Avaré, onde está minha família. Foi amor à primeira vista. Depois do falecimento dos meus pais, eu tenho ido pouco para lá. Tenho meus irmãos, meus sobrinhos, mas eu tenho ido pouco. Minha cidade mesmo é Marília. Não tem como. Eu sou muito feliz aqui. Foi aquilo que eu te falei. Parece que foi Deus implantando no coração, dando a experiência de quando eu vim para cá. E foi amor à primeira vista. Já finquei raízes aqui.

Valéria (de verde) foi escolhida como uma das cinco mulheres secretárias da gestão Vinicius Camarinha (Foto: Wagner Martins)

MN – Como você vê o protagonismo das mulheres nesse primeiro momento da futura gestão do Vinicius?

Valéria – Eu acho que o papel da mulher tem mudado o cenário no Brasil. Ela está mostrando que é capaz. A mulher é sonhadora e corre atrás. A mulher tem um lado que o homem não tem. Ela é mais calma nas decisões. Ela pontua mais e eu acho que a gente planeja mais. Não estou falando que os homens não, mas eu acho que pelo fato de a mulher cuidar da casa, ter filhos, correr com isso, correr com aquilo. Eu acho que a mulher, na hora que você está pensando no A, ela já está no B. Ela pensa lá na frente. Foram escolhidas pessoas capacitadas para os cargos.

MN – Você está muito ansiosa para começar?

Valéria – Muito. Eu sou uma pessoa que gosta de desafios. Eu sou uma pessoa muito sonhadora, mas com os pés no chão. Enquanto eu não terminar, não conseguir realizar algo que eu sei que é palpável, eu não desisto. Dificilmente eu vou ficar parada ou atrás de uma mesa. Eu vou correr atrás. Eu vou encher os empresários, vou pedir ajuda e vou fazer a diferença. Se der certo, não foi a Valéria que conseguiu. Foi a equipe da Secretaria de Esportes que vai conseguir. É o prefeito que tem a mesma visão. É o governo que está com essa mesma visão. Então não é uma pessoa sozinha, é um conjunto. A gente vai trabalhar em conjunto. Será uma vitória para cidade e para a população, que colocou Vinicius como prefeito.

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‘Ninguém espera que um negro com terno e gravata seja um juiz ou advogado’ https://marilianoticia.com.br/ninguem-espera-que-um-negro-com-terno-e-gravata-seja-um-juiz-ou-advogado/ Sun, 10 Nov 2024 12:00:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=619133 Consciência Negra é um termo que ganhou notoriedade no Brasil na década de 1970, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unido. De lá para cá, muitos desafios foram vencidos. A luta inclusive ganhou uma data, 20 de novembro é lembrado o Dia da Consciência Negra. […]

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Bruna Carla Simeão de Oliveira exerce a profissão de advogada desde 2018 (Foto: Arquivo Pessoal)

Consciência Negra é um termo que ganhou notoriedade no Brasil na década de 1970, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unido. De lá para cá, muitos desafios foram vencidos.

A luta inclusive ganhou uma data, 20 de novembro é lembrado o Dia da Consciência Negra. O mês é todo voltado à conscientização do tema.

Neste contexto, a advogada criminalista mariliense Bruna Carla Simeão de Oliveira, de 32 anos, casada e mãe de três filhos, considera que vários direitos adquiridos ao longo do tempo ainda necessitam “sair do papel”. “É uma luta diária e escolhi a carreira criminal por vivenciar a realidade na periferia”, conta a profissional, que também é candidata ao conselho estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Durante sua trajetória acadêmica, Bruna teve ajuda e incentivo da família. Estudou os ensinos fundamental e médio na Escola Estadual Benito Martinelli, no Santa Antonieta, e passou três anos pelo curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Marília – através da conquista da bolsa de estudos do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Bruna também é coordenadora da Associação Nacional da Advocacia Negra (Foto: Arquivo Pessoal)

Também ex-aluna do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Escola Técnica (Etec) do Centro Paula Souza, Bruna sempre sonhou em fazer Direito. Mesmo sem condições financeiras, persistiu e, em 2013, deixou Ciências Sociais na Unesp e ingressou no tão sonhado curso no Univem, em Marília.

Bruna se formou em 2017 e já começou a advogar em 2018, obtendo grandes destaques na carreira até hoje. Premiada em 2019 pela Associação Nacional da Advocacia Negra (Anam) – onde está como coordenadora -, a advogada, que atualmente sugere a leitura do livro “Fala, Crioulo”, de Haroldo Costa, é a entrevistada da semana do Marília Notícia.

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MN – A sua motivação pelo direito nasceu por uma questão de gênero, raça ou afinidade com a profissão?

BRUNA – Eu cresci em uma família de mãe solteira. Meu pai foi ausente durante minha infância, adolescência, juventude. Sou a mais velha de cinco irmãos e vi, na situação em que vivíamos, a necessidade de mudança pela busca da sobrevivência, mas sobretudo do direito. Foi aí que percebi que deveria seguir esta profissão, pelo bem da minha família, principalmente da minha mãe, que tanto trabalhou para nos sustentar, e pelo meu pai também. Eu sou apaixonada pela advocacia.

Bruna graduou Direito no Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha – Univem (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quantos negros estudaram Direito contigo na faculdade?

BRUNA – Eram poucos negros na faculdade – cerca de 10% dos 200 formandos – e achei o ambiente bem etilizado. A Unesp era um ambiente mais acolhedor do que a faculdade particular. Uma das minhas referências no Direito é o Nadir de Campos, também negro, com quem conversava bastante.

MN – Quantos professores eram negros?

BRUNA – Na Unesp, tinha mais professores negros. No Univem, menos. Não acredito que seja culpa da instituição, mas atribuo o fato ao contexto geral do país.

MN – Ainda como universitária, que direitos percebeu negados às mulheres e aos negros?

BRUNA – Uma pessoa se descobre negra muito cedo e em alguns locais você não é bem visto, por conta do cabelo, vestimentas e outros detalhes. O negro muitas vezes pode passar por brincadeiras e situações desagradáveis, mas não sabe que teve um direito lesado. Na verdade, nem tudo que a gente sofre é um problema social, mas pode ser um crime. É necessário ter este conhecimento, não acho que temos direitos negados. Os direitos, na realidade, precisam sair do papel, partir para a prática.

Apenas dois negros faziam parte do grupo de formandos da turma, em 2017 (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Negros são maioria entre mortos pela PM e mais de 60% no sistema prisional, segundo dados oficiais. Em que estas estatísticas que impulsionaram a atuar na área criminal?

BRUNA – A carreira criminal não era minha preferência de atuação na advocacia, mas se tornou com o tempo. Morei na periferia e tenho muitos amigos da comunidade que foram presos e precisaram de defesa jurídica. Por conta de minha atuação, estou sempre no presídio e noto a realidade na prática. Para os crimes de “colarinho branco”, temos diversos instrumentos jurídicos para defesa. O “direito criminal negociado” não alcança os menos favorecidos. De fato, acho que temos uma política criminal de encarcerar infelizmente pessoas negras e pobres. O que mais encarcera no Brasil hoje é crime de furto, roubo e pequenos delitos.

MN – Negra, mulher, advogada criminalista. Já sofreu algum preconceito na sua atuação profissional?

BRUNA – Os negros geralmente são enquadrados no perfil de criminoso e muitas vezes são abordados pela polícia por estarem transitando na rua de madrugada ou em um veículo de luxo. Já fui confundida com testemunha numa audiência por ser negra. Ninguém espera que um negro com terno e gravata seja um juiz ou advogado.

MN – Mulheres são maioria entre advogados em Marília, segundo a OAB. O quanto essa diferença faz ou deveria fazer em prol do gênero na advocacia?

BRUNA – Esses dados contribuem muito para a causa negra em Marília. O perfil de liderança da mulher é diferente do homem, porque a mulher é mais acolhedora, gera e cuida dos filhos e ainda tem uma atuação profissional. Na prática, são mais atividades durante o dia do que o homem. As mulheres advogadas acolhem mais a dor que é a advocacia e entendem melhor os direitos em prol do gênero.

MN – Por outro lado, os negros ainda não são maioria entre os advogados…

BRUNA – Precisamos mudar este cenário e levará tempo. Acredito que levaremos mais uns 30 anos para equiparar esta realidade no Brasil. Primeiro, temos que projetar a qualificação profissional e que os negros ingressem no ensino superior. Por exemplo, Marília não tem um curso de Direito dentro de uma instituição pública e enfrentamos a barreira das mensalidades. A cada 200 formados no Direito, cinco ou 10 são negros na cidade.

Bruna Simeão é mãe de três filhas (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Hoje temos uma mulher no comando da OAB Estadual (Patricia Vanzolini). O que acha?

BRUNA – Infelizmente não foi 100% do que esperávamos. Faltou nela este olhar sensível em prol do gênero.

MN – A sua candidatura ao conselho estadual da OAB visa dar visibilidade a esta diferença?

BRUNA – Sim, e nossa intenção é fazer um movimento para que haja mais pessoas negras indicadas para o quadro de desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, além do corpo de assessores e funcionários. Queremos estar mais presente na OAB, cobrando avanços mesmo. Temos mais pautas além do racismo e precisamos abordar outros temas relevantes. Lutamos por mais diversidade na OAB e na estrutura judiciária.

MN – Como coordenadora da Associação Nacional da Advocacia Negra quais avanços tem alcançado na advocacia em Marília?

BRUNA – Foram muitos avanços. Nunca achei que teria voz dentro da carreira e da própria OAB. Eu mesmo tinha preconceito, mas hoje sou bem aceita dentro do meio. Como coordenadora da Associação Nacional, ainda estamos caminhando em Marília e firmamos uma parceria com o Instituto Aura, para fomentar a advocacia negra na cidade. É um trabalho de apoio ao empreendedorismo negro e que traz para perto da gente mais profissionais dentro da causa negra.

MN – Qual seu conselho aos estudantes negros?

BRUNA – Meu conselho é para que se dediquem e façam o curso com seriedade e responsabilidade. Necessitamos de uma formação de qualidade para nos tornarmos profissionais capacitados. São grandes os desafios, porém, a educação tem o poder de mudar não só nossa realidade, mas a realidade de toda nossa família e da sociedade. Estudem para concursos públicos, façam o exame da OAB e plantem bastante dedicação, para colher bons frutos no futuro. Deus é justo.

Advogada é atuante na esfera criminalista no Direito (Foto: Arquivo Pessoal)

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POR RODRIGO VIUDES E GUSTAVO CÉSAR

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‘Câncer de próstata é traiçoeiro: sintomas podem aparecer somente em estágio avançado’ https://marilianoticia.com.br/cancer-de-prostata-e-traicoeiro-sintomas-podem-aparecer-somente-em-estagio-avancado/ Sun, 03 Nov 2024 08:05:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=617567 Em meio às campanhas de saúde que usam cores e slogans de alerta para a prevenção, o Novembro Azul se destaca. O tema deveria estar na pauta de toda população masculina adulta. Mas vai além, se estende a familiares que são obrigados a, praticamente, “empurrar” seus pais, maridos e irmãos para os consultórios, visando a […]

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Médico urologista André Guzzardi: “Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem” (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)

Em meio às campanhas de saúde que usam cores e slogans de alerta para a prevenção, o Novembro Azul se destaca. O tema deveria estar na pauta de toda população masculina adulta. Mas vai além, se estende a familiares que são obrigados a, praticamente, “empurrar” seus pais, maridos e irmãos para os consultórios, visando a preservação da vida.

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), com mais de 65 mil novos casos estimados a cada ano.

O Mapa da Mortalidade – ferramenta de tabulação do órgão federal – aponta que nos últimos 20 anos, Marília perdeu 344 vidas somente para o câncer de próstata; são mais de 17 casos por ano, somente em moradores da cidade.

Alteração prostática não costuma dar sinais no início da doença (Foto: Divulgação/CAU Marília)

O Inca aponta ainda que pelo menos um em cada nove homens desenvolverá a doença ao longo da vida, com taxa de incidência mais elevada a partir dos 50 anos.

“Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem”, lembra o médico urologista André Guzzardi, entrevistado da semana pelo Marília Notícia. Aderir ao novembro azul é ser maior que estigmas, é demostrar amor próprio e às pessoas com quem os dias são compartilhados.

O especialista – que é membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e atua no Centro Avançado de Urologia de Marília (CAU) – abriu espaço em sua agenda e recebeu o MN para um bate papo que ajuda a entender o motivo de grande parte dos diagnósticos de câncer de próstata ainda serem tardios.

Médico explica faixa etária e fatores genéticos relacionados (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)

Confira abaixo a entrevista completa:

Marília Notícia: Doutor, o câncer de próstata é o tema central dessa conversa, mas não é só isso, certo? Gostaria que o senhor começasse falando sobre a questão do cuidado em geral e como isso tem a ver com o câncer de próstata, que é o tema deste mês.

Dr. André Guzzardi: Com certeza. A questão do câncer de próstata é extremamente relevante, até porque é o câncer mais comum em homens, ficando atrás apenas dos cânceres de pele. A incidência é realmente alta, e isso é um fenômeno mundial. Existem fatores de risco, como a genética e, por exemplo, a maior incidência entre homens negros. Mas o ponto fundamental é que vivemos em um país muito grande e diverso, o que faz com que as campanhas de prevenção precisem alcançar a todos, independentemente de classe social, cor ou região. A campanha do câncer de próstata busca levar o homem a fazer uma prevenção regular, já que a única forma de cura é o diagnóstico precoce, ou seja, quando ainda não há sintomas.

MN: Então, além da prevenção ao câncer de próstata, o senhor vê um valor ainda maior na realização desses exames preventivos, certo?

Dr. André Guzzardi: Exatamente. A oportunidade de realizar um exame preventivo permite olhar para a saúde geral do homem. Em muitos casos, é possível diagnosticar pressão alta, diabetes e outras condições que ele talvez não esteja tratando e que, se ignoradas, podem resultar em complicações graves, como infarto ou AVC. Aproveitar o momento da prevenção ao câncer de próstata para verificar essas condições contribui muito para a saúde global do paciente.

MN: E como está o cenário do diagnóstico precoce no Brasil? Os homens têm conseguido acessar esse diagnóstico a tempo?

Dr. André Guzzardi: Houve, sim, um avanço importante. Ainda estamos aquém do ideal, mas, devido às campanhas, especialmente o Novembro Azul, os homens estão se conscientizando cada vez mais. Essas campanhas anuais lembram os homens de que é hora de parar e pensar na própria saúde. A cultura ainda precisa melhorar, pois muitos homens têm certo preconceito ou acreditam que, enquanto não têm sintomas, não precisam ir ao médico. Porém, o câncer de próstata é traiçoeiro: quando os sintomas aparecem, o câncer já pode estar em estágio avançado, o que complica o tratamento.

MN: E para quem está nos lendo agora, doutor, quais são as recomendações de idade e fatores de risco que exigem mais atenção?

Dr. André Guzzardi: O ideal é que a partir dos 40 anos o homem já comece a fazer exames preventivos para saúde cardiovascular e geral. No caso do câncer de próstata, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é iniciar aos 50 anos. No entanto, para homens negros ou com histórico familiar direto de câncer de próstata, como pai ou irmão, a recomendação é que iniciem os exames a partir dos 45 anos.

MN: Agora, doutor, o senhor mencionou os homens negros. Em um país como o Brasil, com tanta miscigenação, como orientamos esses casos?

Dr. André Guzzardi: Uma pergunta muito pertinente. Muitos brasileiros têm ascendência mista. Nesses casos, é prudente que o homem se observe. Se ele tem algum ascendente negro, mesmo que distante, já vale a pena ficar mais atento. Isso porque algumas condições, como o câncer de próstata, têm uma maior prevalência em descendentes negros. A mesma lógica se aplica para outros grupos: pessoas de ascendência asiática, hispânica, entre outros, também apresentam predisposições específicas para algumas doenças.

MN: O exame de prevenção ao câncer de próstata começa com o exame de sangue, o PSA? Como funciona?

Dr. André Guzzardi: Isso. O exame mais básico é o PSA, que é uma proteína produzida pela próstata. Quando o câncer de próstata está presente, o nível de PSA se eleva em cerca de 90% dos casos. Mas é importante lembrar que entre 10% e 15% dos homens com câncer de próstata não apresentam elevação no PSA. Por isso, o toque retal é importante, pois complementa o PSA e ajuda a detectar nódulos ou outras anormalidades na próstata.

MN: E os dois exames, então, devem ser feitos juntos?

Dr. André Guzzardi: Sim, eles são complementares. Um pode falhar onde o outro consegue detectar, então a combinação dos dois oferece uma maior segurança no diagnóstico.

MN: Em relação ao acesso à saúde pública, sabemos que há diferenças entre o sistema privado e o Sistema Único de Saúde (SUS). Como está a questão do acesso ao diagnóstico precoce e tratamento do câncer de próstata na saúde pública?

Dr. André Guzzardi: Acredito que o acesso à saúde pública tem evoluído muito. Em nossa região, por exemplo, temos unidades que trabalham apenas com a parte oncológica e contamos com leis que protegem o paciente, como a lei que determina que o tratamento do câncer deve começar em até 60 dias após o diagnóstico. No entanto, há limitações, principalmente quando falamos de técnicas cirúrgicas mais caras, como as que utilizam videolaparoscopia ou robótica. Esses procedimentos são mais comuns na saúde suplementar ou privada, e o SUS tem acesso reduzido a eles. Isso pode interferir no conforto pós-operatório, mas não há comprovação científica de que interfira nos resultados finais.

Dr André Guzzardi durante procedimento cirúrgico (Foto: Divulgação/CAU Marília)

MN: Falando sobre câncer, as pessoas costumam associá-lo a algo muito grave, mas existem outras doenças do sistema urinário que afetam homens e que nem sempre recebem atenção. É isso mesmo?

Dr. André Guzzardi: Sim. O homem, em geral, não tem a mesma cultura de prevenção que a mulher. Desde jovem, a mulher é incentivada a ir ao ginecologista e a cuidar de sua saúde reprodutiva. O homem, por outro lado, dificilmente vai ao médico até que tenha um problema concreto. Seria ideal que ele fosse orientado desde a adolescência a cuidar da saúde, entender a importância de palpar os testículos e conhecer seu próprio corpo. O câncer de testículo, por exemplo, afeta jovens entre 15 e 25 anos, que raramente fazem consultas preventivas e, por isso, muitas vezes o diagnóstico só ocorre quando a doença já está avançada.

MN: Então, por consequeência, esse contato precoce com a saúde urológica poderia prevenir casos mais graves.

Dr. André Guzzardi: Com certeza. Quanto mais cedo esse contato ocorre, maior a chance de evitar complicações. A orientação para que os jovens palpem os testículos e fiquem atentos a qualquer alteração pode fazer uma grande diferença. Eles precisam saber que qualquer dúvida pode e deve ser compartilhada com os pais, e que é sempre possível consultar um médico para orientações específicas. Infelizmente, a falta dessa cultura de prevenção acaba gerando casos de câncer em estágio avançado, que poderiam ter sido evitados com um simples exame.

MN: Doutor, para finalizar, gostaria de saber se há algo mais que o senhor considera importante ressaltar para quem está lendo essa entrevista durante o Novembro Azul.

Dr. André Guzzardi: Acredito que o Novembro Azul vai além do câncer de próstata. É um convite para o homem cuidar da saúde como um todo. Isso significa investir no básico: alimentação saudável, atividade física, sono de qualidade e saúde mental, que inclui o controle do estresse. Cuidar da saúde não é só ausência de doença; é saber lidar com a vida de forma mais equilibrada. Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem. Então, cuidar de si mesmo também é um ato de cuidado com os entes queridos.

MN: Excelente, doutor. Muito obrigado por essa conversa rica e esclarecedora.

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‘O que me chama a atenção é a necessidade da Turma do Bem existir’, diz Ana Massaro https://marilianoticia.com.br/o-que-me-chama-a-atencao-e-a-necessidade-da-turma-do-bem-existir-diz-ana-massaro/ Sun, 27 Oct 2024 11:00:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=616228 Celebrados na sexta-feira (25), o Dia do Dentista e o Dia da Saúde Bucal são lembrados por ser dedicado àqueles profissionais especializados em devolver o sorriso, a saúde e a dignidade da autoestima a todos que os procuram em seus consultórios espalhados pela cidade. Entre as centenas que atendem em Marília, há dezenas de abnegados […]

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Cirurgiã-dentista Ana Carolina Massaro é coordenadora em Marília na Oscip Turma do Bem (Foto: Redes Sociais)

Celebrados na sexta-feira (25), o Dia do Dentista e o Dia da Saúde Bucal são lembrados por ser dedicado àqueles profissionais especializados em devolver o sorriso, a saúde e a dignidade da autoestima a todos que os procuram em seus consultórios espalhados pela cidade.

Entre as centenas que atendem em Marília, há dezenas de abnegados em servir ao próximo coordenados pela cirurgiã-dentista Ana Carolina Massaro, coordenadora local da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Turma do Bem (Oscip tdb).

Maior rede de voluntariado especializado do mundo, com mais de 18 mil dentistas distribuídos em 12 países, o tdb atende gratuitamente jovens de 11 a 17 anos e mulheres vítimas de violência de gênero que tiveram a dentição afetada.

Finalista do título de melhor dentista do mundo de 2022 concedido pela Turma do Bem, Ana Carolina Massaro falou ao Marília Notícia sobre atuação dos voluntários, os atendimentos e a realidade da especialidade na cidade.

“Somos referência em saúde bucal, mas ainda assim o ideal seria ampliar o número de atendimentos odontológicos na rede pública”, afirma a dentista. “O número absurdo de desdentados se deve à falta de condições da população de pagar pelo tratamento”, aponta.

Nascida em Marília e caçula de um técnico em máquinas eletrônicas e uma dona de casa, Ana Carolina Massaro é formada em Odontologia pela Universidade de Marília (Unimar) e especializada em implante e prótese sobre implante pela Uningá, de Maringá (PR).

Atualmente ela representa o Conselho Regional de Odontologia (CRO) e a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) regional de Marília no Conselho Municipal de Saúde (Comus). Divorciada, é mãe de uma filha e tem como hobbies ler e degustar um bom vinho.

Confira abaixo entrevista completa:

***

MN – Como a senhora conheceu a Turma do Bem?

Ana Carolina Massaro – Conheci a Turma do Bem em um Congresso de Odontologia, em 2009. Eu me cadastrei para atender voluntariamente jovens carentes, mas para o projeto acontecer, é necessário um coordenador. Como não tínhamos nenhum cadastrado aqui em Marília, assumi a coordenação. Hoje temos 75 dentistas voluntários em nossa cidade.

Ana Carolina Massaro em atendimento à mulher vítima de violência pela Turma do Bem (Foto: Divulgação/redes sociais)

MN – A senhora já havia desenvolvido outras atividades voluntárias antes?

Ana Carolina Massaro – Nunca tinha realizado trabalho voluntário até conhecer a Turma do Bem.

MN – Que problemas dentários mais recorrentes a senhora tem encontrado nas bocas de jovens e mulheres atendidos por esta iniciativa?

Ana Carolina Massaro – Não existe uma prevalência. Encontramos todos os tipos de problemas nos jovens atendidos pelo projeto. Desde cáries simples como as mais avançadas, até já necessitando de tratamento de canal. Alguns precisando ser extraídos, bastante má oclusão que requer tratamento ortodôntico. Já nas mulheres, além dos problemas já citados, encontramos muitos casos de dentes fraturados ou até mesmo deslocados durante o momento da agressão sofrida.

Ana Carolina Massaro e dezenas de outros dentistas em Marília atendem crianças em ação gratuita (Foto: Divulgação/redes sociais)

MN – Que casos mais te chamaram a atenção?

Ana Carolina Massaro – O que me chama a atenção não é um caso em específico, mas sim o motivo da necessidade da ONG Turma do Bem existir. Ou seja, a falta de acessibilidade ao tratamento odontológico pela população em condições de vulnerabilidade social e o alto índice de violência contra a mulher.

MN – A Turma do Bem oferece atendimento gratuito. O quanto a senhora entende que o custo dos tratamentos dentários afasta as pessoas deste cuidado essencial com a própria saúde?

Ana Carolina Massaro – O custo de um tratamento dentário pode sim ser um impeditivo, por consequência da enorme desigualdade social existente.

MN – Quais outros públicos poderiam ser alcançados pelas iniciativas odontológicas voluntárias?

Ana Carolina Massaro – Como a demanda é grande, a Turma do Bem teve como propósito focar num determinado público. Com o Projeto Dentista do Bem, atendemos os jovens entre 11 e 17 anos por estarem próximos a iniciar um primeiro emprego. Já com o Projeto Apolônias do Bem, priorizamos mulheres vítimas de violência para devolver, além de saúde, a autoestima, para que elas voltem a viver.

MN – Como os poderes públicos poderiam contribuir no alcance e eficiência do tratamento dentário da população em Marília?

Ana Carolina Massaro – Considerando que a saúde é direito de todo cidadão, o ideal seria existirem políticas públicas mais eficazes direcionadas a promoção da saúde, principalmente a essa população mais carente atendida pelos projetos da Turma do Bem. Aqui em nossa cidade podemos até considerar que somos referência em saúde bucal, mas ainda assim o ideal seria ampliar o número de atendimentos odontológicos na rede pública.

Equipe da Turma do Bem em ‘Mega Triagem’ realizada neste ano (Foto: Divulgação/Redes Sociais)

MN – Várias empresas têm apoiado a Turma do Bem. Como a iniciativa privada poderia ajudar nestas e em outras ações da Odontologia em prol do cliente/consumidor?

Ana Carolina Massaro – As empresas privadas são nosso meio de sobrevivência. Elas ajudam financeiramente na manutenção dos funcionários da organização. Nós dentistas realizamos esse trabalho voluntariamente, mas para que os beneficiários cheguem até os consultórios é necessário um time bem treinado para fazer a seleção dos jovens e mulheres que serão atendidos, desde o encaminhamento e acompanhamento até a finalização do tratamento e desligamento do projeto.

MN – O Brasil já ultrapassou a marca de 400 mil dentistas registrados no Conselho Federal de Odontologia (CFO). Na sua opinião, por que, apesar de tantos profissionais, há 34 milhões de desdentados no Brasil, segundo o IBGE?

Ana Carolina Massaro – Esse número absurdo de desdentados se deve à falta de condições da população de pagar pelo tratamento. E ainda, o descaso em algumas regiões mais, em outras menos, do poder público com a saúde bucal. Há também a falta de informação e, de um modo geral, a falta de políticas públicas voltada à saúde bucal.

MN – Com tantos dentistas no mercado, por que ainda haveria espaço para outros profissionais?

Ana Carolina Massaro – Todo profissional que trabalha com dedicação e amor pelo que faz encontra espaço no mercado de trabalho.

MN – Na sexta-feira foi comemorado o Dia do Dentista. Que desafios a profissão ainda precisa superar na sua opinião?

Ana Carolina Massaro – A Odontologia teve avanços enormes em tecnologias. No entanto, ainda assim, na minha opinião, o maior desafio da nossa profissão talvez seja olhar e tratar nosso paciente como um todo, um ser humano que precisa de um tratamento, e não só um sorriso bonito.

MN – E por quais conquistas os dentistas abrem um belo sorriso?

Ana Carolina Massaro – Essa só posso responder por mim (risos). A melhor conquista de um dentista é quando o paciente abre aquele “sorrisão” ao final do tratamento! Nenhuma conquista material supera a demonstração de gratidão que nosso paciente nos dá, seja ele particular ou beneficiário de um projeto social.

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‘Vou poder olhar para as pessoas e pedir o voto novamente’, afirma Fabiana Camarinha https://marilianoticia.com.br/vou-poder-olhar-para-as-pessoas-e-pedir-o-voto-novamente-afirma-fabiana-camarinha/ Sun, 20 Oct 2024 08:00:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=614449 Fabiana Camarinha foi eleita com 4.281 votos e toma posse no início de 2025 para um mandato de quatro anos como vereadora na Câmara de Marília. Sua campanha teve destaque por seu compromisso firmado com causas sociais, proteção a mulheres e crianças e a reativação de projetos na cidade. Formada em Serviço Social, a vereadora […]

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Fabiana Camarinha foi eleita com a maior votação para vereadora da história de Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

Fabiana Camarinha foi eleita com 4.281 votos e toma posse no início de 2025 para um mandato de quatro anos como vereadora na Câmara de Marília. Sua campanha teve destaque por seu compromisso firmado com causas sociais, proteção a mulheres e crianças e a reativação de projetos na cidade.

Formada em Serviço Social, a vereadora eleita tem histórico de atuação na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e na Casa do Pequeno Cidadão, que diz pretender reativar.

Em sua primeira tentativa eleitoral, foi a vereadora mais votada da história de Marília, mas a política não é novidade em sua vida. Ela é casada com ex-prefeito, ex-deputado estadual e ex-deputado federal Abelardo Camarinha, com que está há mais de 20 anos. Fabiana acompanhou de perto a carreira política do marido e agora inicia a sua própria.

Fabiana Camarinha será uma das quatro vereadoras na próxima Legislatura em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao Marília Notícia, Fabiana reforça a necessidade de melhorar o acesso à saúde, especialmente em exames preventivos para mulheres, uma área que apontou como crítica durante a campanha.

Outro ponto de destaque foi o aumento da representatividade feminina no Legislativo, um passo importante para Marília. Fabiana Camarinha diz que espera que sua atuação inspire outras mulheres a se interessarem pela política, um movimento que ela já percebe em ascensão.

***

MN – Você é mesmo daqui de Marília?

Fabiana – Sou de Marília. Fui criada no bairro Alto Cafezal. Minha mãe é professora e meu pai é militar aposentado. Sou formada em Serviço Social.

MN – Como foi sua infância em Marília?

Fabiana – Frequentava as casas de tias e avó, pois era tudo perto. Foi uma infância muito boa, gostosa, com tias, avós, primos. Foi aquela infância que hoje a gente não vê mais. Brincando na rua de esconde-esconde, queima. Hoje é tudo bem mais diferente. Por exemplo, meu filho está sempre no apartamento. Não teve isso que a gente tinha de brincar na rua com os amigos. As crianças de hoje nem sabem o que é isso.

Fabiana foi eleita vereadora em sua primeira disputa eleitoral em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Você estudou onde aqui em Marília?

Fabiana – Eu estudei no Abel Augusto Fragata. Eu também fiz Serviço Social, sou formada em assistente social.

MN – Você se formou e já começou a trabalhar?

Fabiana – Eu me formei e já trabalhei na Apae. Eu me formei em 2001. Me formei cedo. Trabalhei também na Casa do Pequeno Cidadão, que funcionava ali perto do Colégio Cristo Rei, mas que hoje infelizmente não existe mais. Na época que eu me formei, o Abelardo (Camarinha) foi o paraninfo, padrinho da nossa turma.

MN – Foi nessa época que vocês se conheceram?

Fabiana – Foi sim. Ele era prefeito e foi nessa época que a gente começou a namorar, por volta de 2001. Há mais de 20 anos, né? O Gabriel [filho] já tem 13 anos. Já faz bastante tempo.

Abelardo Camarinha foi paraninfo de formatura da turma de Fabiana (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como vocês se conheceram?

Fabiana – A gente se conheceu nessa época que eu fazia Serviço Social. Ele era prefeito e eu fui fazer estágio. Foi mais ou menos essa época aí que a gente se conheceu.

MN – Você está há mais de 20 anos ao lado de um político e como foi a experiência de participar como candidata de uma campanha?

Fabiana – Eu acompanho ele há mais de 20 anos. Eu o conheci quando ele era prefeito, numa eleição. Eu sempre gostei, participei, mas nunca como candidata. Agora foi a primeira vez e foi uma experiência boa, porque senti o carinho da população em todos os lugares que fui.

Abelardo Camarinha, Fabiana e o filho Gabriel (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como foi a aceitação das pessoas durante a campanha?

Fabiana – Eu fui bem aceita e não tive rejeição, então foi muito gostoso. As pessoas que trabalhavam para mim, que me ajudavam, falavam que estavam gostando de trabalhar comigo. Foi muito gostoso de trabalhar esses 45 dias. Eu já venho há uns três meses, desde quando a gente sentou e decidi que seria candidata para vereadora. Sentei com o Abelardo e a gente já fez um plano de governo, com as coisas que eu achava importantes. Desde então eu já comecei a andar e já fui sentindo o carinho do povo.

MN – As pessoas queriam vereadores diferentes na Câmara?

Fabiana – Eu acho que a população estava querendo algo diferente, cansada de tudo que vinha acontecendo. Por ser mulher, a bandeira que eu trouxe também foi muito bem aceita.

MN – Você imaginava que ia ser tão bem votada assim?

Fabiana – Não. Eu imaginava que eu seria bem votada. Sempre quando a gente falava no candidato mais votado, estava na casa ali dos 3.500 ou 3.700 votos, mas não tinha uma ideia assim.

MN – Você acha que essa votação expressiva, a maior da história em Marília, aumenta a sua responsabilidade na Câmara?

Fabiana – Com certeza aumenta, mas eu quero fazer um bom trabalho. Vou fazer um bom trabalho. Tudo aquilo que eu levei de propostas para as pessoas, eu pretendo já ir atrás logo de início, trazendo para Marília tudo aquilo que foi falado, porque eu acho que é isso que o povo espera de um político. Que venha, que converse, que traga propostas e que depois cumpra. Eu tenho certeza que eu vou voltar daqui quatro anos e vou poder olhar para as pessoas e pedir o voto novamente. Pedir o voto com a certeza de que aquilo que eu falei, eu cumpri, eu fiz e eu trabalhei.

MN – Você pretende concorrer à presidência da Câmara?

Fabiana – Muita gente falava que eu seria a presidente. Na cabeça das pessoas, a mais votada é a presidente, mas mudou isso. A mais votada só preside a primeira sessão. De início, posso dizer para você que eu não me candidatei à presidência, pelo fato de que eu estou entrando agora. Eu quero conhecer o sistema todo. Aprender como as coisas funcionam. Quero ir atrás dos meus projetos. Não quero já chegar com essa ambição de ser a presidente. Eu acho que é o que o grupo decidir. O que o Vinicius decidir ali com o grupo, é o que a gente vai apoiar.

Vereadora eleita mais votada comandará a primeira sessão parlamentar de 2025 (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Tem algum nome que está despontando?

Fabiana – Não tem nada confirmado ainda, porque não teve essa reunião. Eu acho que o pessoal ainda vai se preparar para anunciar um nome.

MN – Você está há mais de 20 anos com o Abelardo e acompanhando ele em toda a carreira política. Agora começando a sua, de que forma você acredita que ele poderá te ajudar?

Fabiana – Ele pode me ajudar como ele vem fazendo. Me auxiliando, me explicando como funciona isso, como funciona aquilo. Então ele vem auxiliando bastante. Eu acho que depois, o que eu espero dele é que ele me ajude com esse conhecimento que ele tem em São Paulo, Brasília, para que a gente possa, juntos, buscar recursos para Marília, para fazer todos esses projetos que eu tenho em mente. No início ele me auxiliou em tudo, então eu fui caminhando, fui aprendendo e me soltando. Mas eu acho que depois de eleita, ele vai me ajudar dessa forma, com esse conhecimento dele.

MN – Vai ser uma espécie de conselheiro seu?

Fabiana – Também. Ele tem uma experiência enorme. Ele conhece muita gente no mundo da política. Ele sabe o que é legal e o que não é bacana. Ele já vem me dando dicas e eu venho escutando, porque ele tem uma experiência enorme. Ele sabe como fazer e daqui dois anos será candidato para deputado. Vai ajudar muito nossa cidade.

Fabiana Camarinha junto com seu marido, Abelardo Camarinha, e o prefeito eleito, Vinicius Camarinha (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Um dos papéis do vereador é fiscalizar a administração municipal e o prefeito. Como fica essa situação para você?

Fabiana – Não sei dizer se isso aumenta a minha responsabilidade. Eu sei dizer que irei fiscalizar, independente de quem seja (o prefeito). Eu fui eleita para isso. Sempre disse que o que for para o bem do povo, eu irei fazer. O que não for, eu não irei fazer independente de quem seja prefeito. É o Vinicius, mas eu fui eleita pelo povo, para atender o povo. Eu espero, junto com o Vinicius, realizar projetos para o bem da população e acredito que será feito.

MN – Quais são as principais propostas que você apresentou durante a campanha e que você pretende realizar?

Fabiana – Uma delas é o retorno da Casa do Pequeno Cidadão, que é um projeto que eu conheci. Tive a oportunidade de conhecer e de trabalhar lá. Sei da importância desse projeto para a mulher que trabalha o dia inteiro, que sabe que o filho está protegido. A importância para a criança que não fica na rua, levando em conta que hoje é bem pior do que antes. Há 20 anos atrás, quando o Abelardo fez esse projeto, ele tirava as crianças das ruas. Hoje, infelizmente, acabam se envolvendo em coisas piores. Precisamos retomar as Casas do Pequeno Cidadão. A volta da Legião Mirim também é outra proposta minha, que protegia os jovens, adolescentes e dava oportunidade do primeiro emprego. Também é outra proposta que a gente quer resgatar, e ajudar as entidades que precisam.

Fabiana na companhia de seu filho Gabriel (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Você também pretende ajudar as entidades de Marília?

Fabiana – Marília está passando uma dificuldade enorme. Praticamente quase todas as entidades. O Cacam, o Educandário, Juventude Católica. Precisamos de um olhar melhor para o social. O social envolve crianças, adolescentes e as pessoas que mais precisam.

MN – Marília vem numa ascensão em relação à representatividade feminina no Legislativo. Como é que você encara isso?

Fabiana – Eu fico feliz com esse aumento. Porque a mulher tem mais sensibilidade para os problemas, principalmente para os problemas das mulheres. A mulher sabe o que outra mulher precisa, o que uma mãe precisa. Eu fico muito feliz. Olha que maravilha isso. A cidade só tem a ganhar. Na minha opinião, a cidade só tem a ganhar com mais mulheres no poder. E que venham mais mulheres ainda.

MN – Você acha que esse aumento de representatividade pode incentivar mais mulheres a se interessarem pela política?

Fabiana – Com certeza. Isso já vem acontecendo. Eu percebi que vem acontecendo. Há aumentou o número de mulheres interessadas na política. É que ainda tem toda essa questão de sempre acabar elegendo os homens, mas eu acho que com o tempo, isso vai melhorar. Nós mulheres temos que mostrar o porquê estamos lá, para que possa aumentar e sempre aumentando.

MN – Você está ansiosa pelo início do seu trabalho?

Fabiana – Um pouco. Eu já fui lá na Câmara e conversei com o pessoal. A partir do mês que vem já vão passar para mim mais ou menos como vai ser. Eu vou me preparar já pra isso, mas um pouco de ansiedade dá. Estou preparada e com bastante vontade de trabalhar.

Fabiana Camarinha durante campanha, no Camelódromo de Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – O que você acha que está faltando na cidade?

Fabiana – A população que está realmente abandonada. Andei nos quatro cantos da cidade e era triste de ver uma mulher esperando três anos por um exame, dois anos e meio em filas de exames. Elas não conseguem fazer exames de prevenção, exames simples, que é um direito da mulher. Elas deveriam conseguir isso em uma semana, mas ficam até três anos esperando. É muita coisa e é muito descaso. Esse tempo todo pode significar entre ela viver ou morrer, pois o câncer não espera. A mulher descobre um nódulo e ela já tem que fazer uma mamografia, já tem que fazer um exame. A gente vê casos de desespero. Eu vi vários e vários casos. Se a pessoa não consegue o dinheiro para fazer no particular, infelizmente pode até morrer.

MN – O que o eleitor pode esperar da Fabiana Camarinha como vereadora aqui em Marília?

Fabiana – Pode esperar que eu irei honrar todos os votos que eu tive. Serei uma vereadora que, como eu disse, o que for para o bem da população, eu vou fazer. Eu vou atrás dos projetos que eu ofereci para a população. As propostas que eu passei para a população, eu vou atrás para poder trazer para Marília. Eu vou lutar e vou trabalhar muito nestes quatro anos. Vou lutar pelas mulheres, pela saúde da mulher. Foi uma das minhas bandeiras também. Minha luta será para proteger as crianças e as mulheres. Eu sei que juntos, unidos, nós vamos conseguir fazer isso.

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‘Eu fiz um plano viável para Marília, que será realizado’, diz Vinicius https://marilianoticia.com.br/eu-fiz-um-plano-viavel-para-marilia-que-sera-realizado-diz-vinicius/ Sun, 13 Oct 2024 13:28:59 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=613245 De volta à sua rotina de deputado estadual, o prefeito eleito de Marília, Vinicius Camarinha (PSDB), teve agenda cheia na primeira semana após conquistar a segunda oportunidade para governar a cidade onde nasceu. Vinicius reencontrou entidades, eleitores e espaços públicos e, em viagem, visitou a Rumo, concessionária ferroviária responsável pelo trecho em Marília, para tratar […]

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Vinicius Camarinha concedeu entrevista em seu escritório político localizado a menos de 100 metros do Paço Municipal (Foto: Gabriel Tedde/Marília Notícia)

De volta à sua rotina de deputado estadual, o prefeito eleito de Marília, Vinicius Camarinha (PSDB), teve agenda cheia na primeira semana após conquistar a segunda oportunidade para governar a cidade onde nasceu.

Vinicius reencontrou entidades, eleitores e espaços públicos e, em viagem, visitou a Rumo, concessionária ferroviária responsável pelo trecho em Marília, para tratar sobre o parque linear que consta em seu plano de governo.

Inspirada em um modelo de Nova York, nos Estados Unidos, a obra provocou desconfiança de mera propaganda de campanha – não houve qualquer menção de custo e o candidato admitiu a necessidade de recurso extraorçamentário para realizá-la.

Vinicius em visita à Rumo (Foto: Divulgação)

Agora eleito, Vinicius reafirmou tudo que anunciou antes das urnas. “Eu fiz um plano de viável para Marília, sem falsas promessas. Tudo que está lá é possível de ser realizado. Não tem nenhum absurdo. E nós vamos fazer”, disse.

Ele repetiu suas garantias de governo em entrevista exclusiva do Marília Notícia, concedida no fim da tarde da última terça-feira (8), em seu escritório político em edifício da rua Bahia, a menos de 100 metros do Paço Municipal.

Em menos de meia hora, Vinicius confidenciou bastidores de sua campanha, justificou porque não foi aos debates, explicou com qual critério escolherá seu secretariado e contou como poderá ser um “prefeito/deputado” para Marília.

Prefeito eleito em campanha pelas ruas de Marília antes das eleições (Foto: Divulgação)

Leia abaixo a entrevista completa:

***

MN – O senhor venceu a eleição com quase o triplo de votos do segundo colocado, a exemplo do que ocorreu em 2012. Por quê?

Vinicius Camarinha – A população, no meu entender, conseguiu enxergar um candidato com mais condições de resolver os problemas. O mais preparado, com melhor histórico e currículo, com compromisso com a cidade. Um voto seguro. Isso nós percebermos nas ruas. Fui o único candidato que levou propostas, e que pode dar contas das demandas.

MN – Que lições o senhor tirou das eleições de 2008 e 2016, quando perdeu?

Vinicius Camarinha – Cada campanha é diferente, cada momento de vida também. A gente se torna um ser humano melhor a cada dia, cada um na sua atividade, profissão. Ao longo de minha vida pública eu procurei me aperfeiçoar o tempo todo. Aquela eleição que eu não venci em 2016 foi muito importante para mim pelo amadurecimento. Agora eu parti para uma eleição 100% focado em gastar as minhas energias para resolver os problemas do povo. Essa foi a minha determinação. E zero debate pessoal com candidatos para que a gente não pudesse desfocar da relação com o povo. Essa foi a grande diferença.

Vinicius, a mãe Paula e apoiadores rezam durante as apurações dos votos (Foto: Divulgação)

MN – Um político experiente como senhor não entraria numa eleição sem ter uma ideia da intenção de votos do eleitorado. Foi isso que os números te mostraram ainda em março?

Vinicius Camarinha – Sim. Se fosse pensar somente em mim, eu ficaria onde já estou, como deputado. Seria muito mais fácil para minha vida pessoal. Mas política não é comodidade, e sim onde posso prestar o melhor serviço. Entendi que poderia ajudar mais a minha cidade sendo prefeito. Não era só uma vontade minha, mas dos meus eleitores. Eles nos queriam nas eleições. Por isso as pesquisas apontavam, desde o início, quando comecei minhas sondagens, um boa diferença. Só que isso não serviu de conforto para mim. Eu fui para as ruas com a mesma intensidade de como se estivesse em último lugar, até o último minuto.

Vinicius diz ter validado as pesquisas de intenção de votos pela receptividade das pessoas durante a campanha (Foto: Divulgação)

MN – Por isso sua presença nas ruas, como vimos em suas redes sociais desde o início da campanha…

Vinicius Camarinha – Campanha corpo a corpo, diálogo, falando com as pessoas, trabalhando, focado em dar atenção, em ouvir. Eu saí muito sensibilizado desta eleição. Muito preocupado, triste pelo que encontrei. Eu nunca ouvi em minha vida pública tanto sofrimento quanto agora. Pessoas há seis anos sem consulta médica, sem especialista, sem cirurgia. Uma senhora ficou esperando por seis anos um otorrino. Outra com dor no estômago sem que ninguém resolvesse o problema há três anos. Uma tragédia. Isso me abalou bastante. Ao mesmo tempo me dá energia por saber que vou poder ajudar essas pessoas.  

MN – O senhor liderou todas as pesquisas de intenção de votos publicadas desde julho mas, sabemos, contou com suas próprias estatísticas. Como sua mensuração de dados fez a diferença nos rumos de sua campanha?

Vinicius Camarinha – Nós tínhamos pesquisas regionalizadas. Sabíamos em cada região da cidade como estavam os nossos números. Quem era a favor, contra, estava indeciso. Eu também tinha o feeling de rua. Você anda num bairro, vai para outro, vai percebendo a reação das pessoas, como elas te atendem, te recebem.

Aprovação das ruas também motivou Vinicius a sair candidato (Foto: Divulgação)

MN – Passou pela sua cabeça perder esta eleição com números tão favoráveis?

Vinicius Camarinha – Política não é uma ciência exata. Estava confiante. Eu sabia que o eleitor já tinha caído numa aventura com o atual prefeito. E não iria apostar nisso de novo. A cidade não queria isso, e sim alguém seguro, maduro. Eu não tenho empresa para pagar conta. Minha vida é de carreira política.

Vinicius compõe a base de apoio na Alesp a Tarcísio, com quem deseja manter bom relacionamento como prefeito (Foto: Divulgação)

MN – O senhor acabou de ser eleito prefeito e já pensa no futuro político?

Vinicius Camarinha – Tenho pretensões políticas lá na frente.

MN – Essas pretensões políticas passariam pelo Palácio dos Bandeirantes?

Vinicius Camarinha – Alguém vai ter que ser algum dia presidente da República, governador do Estado, senador, deputado federal. Eu me preparei para isso a vida inteira. Enquanto estivermos dando a reposta que a população deseja e eu estiver me sentindo útil, eu vou continuar.

MN – Ser prefeito dá mais visibilidade que estar deputado?

Vinicius Camarinha – Isso é muito relativo. Eu poderia ser presidente da Assembleia (Legislativa do Estado de São Paulo, a Alesp). Ou mesmo líder do governo no ano que vem. Mas a questão agora não é de vaidade política, mas de onde eu posso atender melhor o povo de Marília. A cidade precisa de um bom prefeito agora. Modéstia à parte, eu posso ser uma espécie de ‘prefeito/deputado’. Tenho relações com pessoas que garantem recursos para a cidade. Marília terá um prefeito com características de deputado.

Vinicius conta que se sentiu bem recebido nas ruas (Foto: Divulgação)

MN – Durante a campanha o senhor confirmou presença em dois debates e acabou não comparecendo a nenhum. Se estivesse em segundo nas pesquisas, teria ido?

Vinicius Camarinha – Eu fui a todos os debates sérios. De propostas, de discussões. O que houve agora é que meus adversários foram ‘zero fair play’. Ultrapassaram a linha da ética política. Fizeram uma campanha de ataques à minha pessoa com calúnias, difamações, injúrias. Como a população também fez nas urnas, decidi desprezá-los. Não dá para debater com esse tipo de gente. Pessoas com essas características eu quero distância.

MN – Em 2016, o senhor entregou a cadeira ao prefeito Daniel, de quem agora a terá de volta. Nesta transição, pretende receber o mesmo tratamento que ofereceu à época?

Vinicius Camarinha – O prefeito me ligou para me parabenizar, mas vou esperar que ele me chame para a transição. Vamos ver o que ele poderá me informar. Na minha vez, tivemos uma transição tranquila, democrática. Cumpri meu papel até o último dia com dignidade, decência e honradez.

Oito anos após entregar administração a Daniel Alonso, Vinicius a receberá de volta em janeiro de 2025 (Foto: Marília Notícia)

MN – Além dos membros do gabinete, o senhor terá 17 secretarias e mais a administração indireta para encaixar os nomes da próxima administração. Quais serão os critérios para defini-los?

Vinicius Camarinha – Brilho nos olhos. Sabe o que é isso? Vontade de trabalhar. Quero gente com vontade de produzir.

MN – Há previsão de quando os primeiros nomes deverão ser anunciados?

Vinicius Camarinha – Ainda vou pegar o organograma da Prefeitura para ver as pastas que existem hoje.

Comemoração da vitória contou com Vinicius sendo carregado pelo povo (Foto: Divulgação)

MN – Além da retirada dos radares como primeiro ato de governo, o senhor anunciou após sua vitória uma força-tarefa de Saúde nos primeiros meses de 2025. Como garantir segurança jurídica para o primeiro e recurso para o segundo?

Vinicius Camarinha – A Prefeitura tem suas ferramentas para suspender unilateralmente esse contrato e nós vamos usá-las. E eu vou buscar recursos de custeio para Saúde para fazer os mutirões. Inclusive eu tenho R$ 20 milhões de emendas para colocar no próximo ano para Marília. Ainda como deputado, participo do orçamento do Estado para 2025. Eu renuncio apenas em 31 de dezembro. Antes disso vou destinar muitos recursos para Marília.

MN – O senhor ancorou boa parte de seu plano governo em recursos extraorçamentários. Como conseguirá dar conta de atendê-lo, agora que está eleito?

Vinicius Camarinha – Eu tenho uma estimativa de alocar para Marília no mínimo R$ 100 milhões do orçamento do Estado e da União. Estou em contato com o governador e semana que vem estarei em Brasília. Já tenho reunião marcada na Assembleia Legislativa também. Vamos trabalhar o orçamento para começar a prover os recursos de investimentos para Marília. Quero tirar do papel tudo aquilo que me comprometi com a população. Eu fiz um plano viável para Marília, sem falsas promessas. Tudo que está no plano é possível de ser realizado. Não tem nenhum absurdo. E nós vamos fazer.

Vinicius segue no cargo de deputado estadual até 31 de dezembro (Foto: Divulgação)

MN – O senhor terá pelo menos 12 dos próximos 17 vereadores em sua futura base governista na Câmara Municipal. Do ponto de vista do Executivo, como é ter um Legislativo no andar de baixo?

Vinicius Camarinha – A Câmara vai estar conectada com a gente porque está no mesmo propósito. O nosso time de vereadores foi eleito pela maioria da população como a maior bancada. Vou dialogar com quem foi eleito dos outros partidos para somar com a gente. Eu vou propor mudanças para melhorar a vida das pessoas. Eu tenho certeza que os vereadores que torcem pela cidade irão aprová-las. Espero não encontrar gente do quanto pior melhor.

MN – No ângulo inverso, como é ser deputado estadual tendo que lidar com um governo de Estado?

Vinicius Camarinha – Sou do partido de Marília. Por exemplo: se eu trabalhei para um governador, ele perdeu e entrou outro que pensa como eu, por que eu vou ser oposição? Eu vou apoiar os bons projetos do governador. Eu vou aperfeiçoá-los. Se o projeto é bom para Marília, eu estou dentro. Eu não tenho esse ranço de questões ideológicas. Tenho minhas convicções. Se forem contra, não vou apoiar. É assim que eu penso.

Vinicius com a esposa Beatriz (Foto: Divulgação)

MN – Por mais algumas semanas o senhor segue como deputado. Já conversou com a suplência para que Marília não perca o apoio desta cadeira?

Vinicius Camarinha – A suplência ainda não foi decidida. O meu primeiro suplente é candidato a prefeito em Taubaté. Está no segundo turno. Mas temos 93 deputados lá que são amigos nossos. Não será apenas esse suplente.

MN – A doutora Beatriz (esposa de Vinicius) terá de trocar em breve o consultório pela vida pública. Ela nos confidenciou que ainda ensaia para as primeiras entrevistas. Como a atuação dela como primeira-dama pode ser uma referência de empoderamento da mulher em seu próximo governo?

Vinicius Camarinha – Minha esposa foi médica do SUS. Ela estudou em uma universidade federal e trabalhou em Rondônia, Roraima, em comunidades muito carentes. Pessoas que moravam em vielas, barracos. Ela tem muita noção de carência pública. Ela tem um desejo enorme de ajudar as pessoas e tenho certeza que vai se sentir muito realizada estando em Marília. Ela é médica de profissão, tem a clínica dela, mas vai nos ajudar neste trabalho social.

MN – Já conseguiu descansar?

Vinicius Camarinha – Que tempo? Não estou cansado. Estou é motivado. Até um pouco mais acelerado. O trabalho está só começando.

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‘Em Marília não há educação ambiental’, diz ambientalista Rodrigo Más https://marilianoticia.com.br/em-marilia-nao-ha-educacao-ambiental-diz-ambientalista-rodrigo-mas/ Sun, 06 Oct 2024 07:50:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=610834 Rodrigo Más, ambientalista de Marília, cresceu em uma família monoparental, sendo criado pela mãe, que trabalhava como manicure. Sua infância foi na Vila Nova e adolescência no bairro São Miguel. Durante sua juventude, na escola Monsenhor Bicudo, se destacou como líder estudantil, quando reativou o grêmio estudantil e promoveu projetos como a criação de um […]

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Ambientalista Rodrigo Más acredita que falta educação ambiental em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

Rodrigo Más, ambientalista de Marília, cresceu em uma família monoparental, sendo criado pela mãe, que trabalhava como manicure. Sua infância foi na Vila Nova e adolescência no bairro São Miguel. Durante sua juventude, na escola Monsenhor Bicudo, se destacou como líder estudantil, quando reativou o grêmio estudantil e promoveu projetos como a criação de um time de futebol feminino e uma biblioteca.

Sua formação acadêmica teve início efetivo com a graduação em Direito pelo Univem, onde desenvolveu interesse por temas ambientais e sociais, especializando-se em Direito Ambiental e Gestão Ambiental.

A consciência ambiental de Rodrigo Más começou a ser moldada na adolescência, influenciada por leituras filosóficas e sua vivência em projetos comunitários. Inspirado por pensadores como Edgar Morin, ele compreende que o meio ambiente não se restringe a florestas distantes, mas inclui o entorno urbano e suas dinâmicas.

Após a graduação, Rodrigo optou por não seguir a advocacia tradicional, preferindo atuar de forma preventiva no campo ambiental. Ele fundou uma consultoria socioambiental, focada em mitigação e compensação de impactos, e desde então trabalha com a elaboração de relatórios ambientais e soluções para a mobilidade urbana e recursos hídricos.

Ao refletir sobre o crescimento populacional e o uso desenfreado de recursos, Rodrigo defende modelos de “cidades inteligentes”, que promovem a sustentabilidade através de alternativas energéticas, transporte coletivo e educação ambiental voltada ao consumo consciente.

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MN – Você é nascido e criado em Marília?

Rodrigo Más – Eu sou nascido em Marília. Nasci em 1976. Sou fruto de uma família monoparental. Fui criado pela minha mãe. Cresci e tive uma infância em um bairro de classe operária, na Vila Nova. Estudei no Zancopé. Depois nós migramos para o bairro da São Miguel, onde eu passei uma parte da minha adolescência. Na fase jovem para adulta, eu morei na região do Alto Cafezal, ali nas mediações do Hospital Espírita.

MN – Na adolescência você fez parte do grêmio estudantil?

Rodrigo Más – Fui fazer o primeiro, o segundo e o terceiro colegial no Bicudo. Lá no Bicudo eu ativei um grêmio estudantil que estava parado há 20 anos. Implantei o futebol feminino na escola. Implantei a biblioteca no grêmio. Concluí o terceiro colegial e fui me graduar em Direito na Fundação Eurípedes Soares da Rocha. No terceiro ano para o quinto, comecei a ficar atraído pelos assuntos chamados transversais, como meio ambiente, garantias sociais e direitos humanos. Fui me especializando em Direito Ambiental e depois eu fiz uma pós-graduação em Gestão Ambiental e Direito Ambiental da Unimar. Uma pós-graduação de dois anos com título de especialista.

MN – Como foi a sua infância aqui em Marília?

Rodrigo Más – Eu morava na rua Ribeirão Preto, bem na frente da Filantrópica. Eu passava boa parte do dia brincando com as crianças da Filantrópica. A maioria dessas crianças estudavam no Zancopé também. Então eram brincadeiras assim bem fruto dos anos 80, do começo dos anos 90, futebol, pipa, búrica. Já pude também começar a perceber as relações sociais das crianças. As crianças da Filantrópica eram crianças que não tinham pais, então eu já comecei a ter essa reflexão sobre relação social.

MN – Nessa época você teve o primeiro contato com a questão ambiental?

Rodrigo Más – Foi uma infância de uma classe operária, mas ela foi bem rica no aspecto criativo, porque a gente construía carrinhos de madeira, fazia carrinhos de rolemã, pipa. Tinha um projeto da Filantrópica que as crianças faziam mudas de árvore. Isso também era bem bacana para mim, foi bem marcante. Inclusive, crianças da minha época, hoje são pessoas que eu encontro na cidade com certas posições sociais.

Infância de Rodrigo Más na zona norte de Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Qual era a profissão da sua mãe?

Rodrigo Más – Minha mãe teve um rompimento muito cedo com meu pai. Eu nasci em 76, em 77 já ele não estava mais presente, foi tocar a vida dele, e minha mãe trabalhava de manicure para sustentar eu e meu irmão mais velho. Meu irmão mais velho veio a falecer no ano de 2008. Minha mãe era manicure e cuidava da gente.

MN – Foi uma grande batalhadora?

Rodrigo Más – Muito batalhadora. Sempre procurou fazer de tudo para garantir a gente nos estudos. Uma casa humilde, mas que ela se esforçava bastante em manter limpa e preservava muito a questão da alimentação. O almoço e o jantar estavam sempre prontos no horário certo.

MN – Quando começou a ter uma consciência ambiental?

Rodrigo Más – Eu comecei a ser influenciado por algumas literaturas. Com 15 anos de idade eu já passava as tardes na Biblioteca Municipal de Marília. E lá, na época, você entrava, tinha um arquivo de madeira lindo. Então, você ia para o assunto filosofia, foi o que sempre me atraiu mais. Ali eu zerei praticamente a escola frankfurtiana, todos de Schopenhauer, Nietzsche, Spinoza. Ali eu tive meu primeiro encontro com Maquiavel e sobre observações políticas. Dentro dessas observações, eu tive o meu primeiro contato com a relação ambiental dentro do comportamento social.

MN – Como era essa relação ambiental na época?

Rodrigo Más – A relação ambiental nessa época era uma relação que trazia uma certa dicotomia. Quando você falava em meio ambiente, você tinha na sua cabeça um bosque, uma floresta. Hoje não, né? Quando a gente fala em meio ambiente, é aqui, no meu entorno, dentro da cidade, na mobilidade urbana, recursos hídricos, veículos elétricos. No começo dos anos 90, final dos anos 80, tinha essa dicotomia que o meio ambiente a gente imaginava era o que estava lá na floresta, lá no bosque. Eu comecei a ter os meus primeiros contatos, que me levaram a uma imersão de reflexão muito grande, com o filósofo francês Edgar Morin. Ele destacou a pauta de meio ambiente como uma relação estratégica no educar, no cuidar, no empoderamento do homem, na relação integral do homem com o homem, sobretudo nessa questão que os recursos são finitos.

MN – Não se pensava assim naquela época?

Rodrigo Más – A gente trabalhava com paradigma e a gente imaginava que os recursos eram infinitos. O Morin abre essa pauta, já trazendo os impactos e fazendo estimativas de que o mundo vai colapsar num futuro próximo, se nada for feito. Depois que eu transitei para o mundo acadêmico, fiz essa correlação jurídica dentro do direito ambiental, porém, o que mais me chama na questão ambiental não é ter, assim, como objeto central o direito ambiental no aspecto jurídico, mas como objeto central na gestão. Uma visão de gestor mesmo, como observar a questão da arborização urbana, a questão da fauna, a questão de recursos hídricos, a questão de permeabilidade do solo. Eu gosto de ter essa visão macro, essa visão completa.

Rodrigo Más se formou em Direito no Univem (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – E por que você escolheu o Direito?

Rodrigo Más – Quando eu terminei o Bicudo, eu levei um currículo até a Fundação Eurípedes Soares da Rocha. Lá eu fui admitido para trabalhar e ganhei bolsa de estudo. Eu levei um currículo para serviços gerais. Eu trabalhava na portaria, de porteiro. Eu já tinha terminado, já fazia um ano, o terceiro colegial. Os professores da Fundação gostavam de conversar comigo, sendo que uns dois ou três professores falaram pra mim que eu tinha uma curiosidade intelectual muito boa. Decidi prestar vestibular e eu sempre fui propenso mais para a área de humanas. Tinha Marketing, Administração e Direito. O professor Oscar Vilhena, que é um profundo entendedor do Direito, estuda muito o STF, falou que minha base era mais uma base sociológica. Podia investir em uma filosofia jurídica.

MN – Você já estava envolvido nessa área ambiental?

Rodrigo Más – Quando eu terminei a faculdade, eu acredito que todo mundo que termina a graduação, põe o pé na calçada da universidade e fala, e agora? Cerca de 90% das pessoas já têm um plano de carreira. Ou elas entram para dentro de um escritório, que já estavam fazendo estágio, ou o pai ou o tio já é advogado ou então vai estudar para concurso. Eu pensei comigo que não queria concurso e não queria advocacia tradicional. Eu queria trabalhar com o meio ambiente. Eu não queria necessariamente ficar desaguando a minha relação profissional no Fórum. Eu não queria ficar judicializando, eu queria trabalhar com uma antecipação.

MN – O que você pretendia?

Rodrigo Más – Eu não queria pegar uma relação ambiental que já tinha ocorrido o dano. Eu queria fazer uma relação de antecipação. É o que eu faço hoje. Eu queria uma relação de compensação, de mitigação, de atenuação. Eu queria prever a situação antes. Aí eu comecei a estudar e eu montei minha consultoria. Eu montei minha consultoria um ano, quase dois anos depois que eu me formei, e estou com ela até hoje.

MN – Como é essa consultoria?

Rodrigo Más – É uma consultoria socioambiental. Eu acho que já deve ter uns 14 anos. Eu trabalho com relatório de mobilidade urbana, relatório preliminar, relatório de impacto, faço bastante coisa.

MN – Como você vê a situação que a gente tem vivido hoje?

Rodrigo Más – A situação atual que vivemos hoje é fruto de um planejamento desorganizado, de um sistema que não consegue se autorregenerar, não consegue se automodelar. Hoje, quem protagoniza os grandes impactos no mundo são as cidades. Então, você percebe, por exemplo, que as cidades cada vez aumentam mais o número de veículos movidos a combustível tradicional, a energia fóssil, a emissão de CO². As cidades cada vez gastam mais recursos hídricos, seja nos parques industriais, no comércio, gasta muita água hoje. As cidades não têm um planejamento para mitigar, para atenuar esses impactos.

Ambientalista Rodrigo Más acredita que falta aprofundamento na pauta ambiental (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Com vê o atual crescimento populacional?

Rodrigo Más – Você tem um crescimento grande da população mundial. Consequentemente, uma demanda muito grande por alimentos. Você vai ao supermercado comprar um saco de maçã, você vai comprar um saco de feijão, de arroz, aquilo demandou uma cadeia produtiva por trás. Demandou relações de insumo, demandou relações de trabalho, demandou máquina, depois demandou a confecção do produto para a embalagem, depois demandou a logística, que é muito grande geralmente. Você vai demandando uso de energia, uso de transporte. O impacto é muito grande hoje dentro da cidade para suprir as nossas necessidades. A indústria da moda é altamente impactante hoje na questão dos recursos hídricos. Então, quanto mais cresce a população, você precisa de mais roupa, mais alimento, você precisa de mais demanda de energia para suprir as gerações de equipamentos eletrônicos. Hoje as cidades não estão transitando para o novo modelo, praticamente elas são insustentáveis.

MN – Qual a proposta para melhorar isso?

Rodrigo Más – Modelos de cidades inteligentes. Cidades que têm coleta seletiva, que têm usina de tratamento de lixo, que têm energia alternativa, que contam com divisão modal alternativa, veículos elétricos, bicicletas, pessoas que utilizam mais transporte coletivo do que individual, modelos de educação ambiental voltado para o consumo. As pessoas estão com consumismo exacerbado, as pessoas estão consumindo por consumir. Elas ainda não entenderam que cada coisa que elas consomem demandou a matéria-prima, demandou o uso do recurso natural. Então, assim, os nossos desejos são insaciáveis, mas os recursos são finitos. Você precisa de modelos de cidades inteligentes que propõem medidas mitigadoras e alternativas para quebrar esse consumo forte.

MN – Vivemos um fruto disso atualmente?

Rodrigo Más – O que gente está vivendo hoje, essa ausência de chuva, essa atmosfera carregada, já é fruto, já é consequência desse modelo de exposição urbana sem preservação ambiental.

Ambientalista Rodrigo Más em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – O que falta para Marília se tornar uma cidade que cuida do meio ambiente?

Rodrigo Más – Essa transformação é uma transformação para curto prazo. Você precisa tomar medidas emergenciais. Por exemplo, quais são as medidas emergenciais hoje na cidade? A cidade não tem capacidade de recurso hídrico para atender a população, sobretudo as que estão nas regiões periféricas. Outra questão é a represa Cascata. É uma discussão interminável. Todo o período desse ano ela é impactada. Todos nós já sabemos que existe um calendário sazonal. Agora, para o final do ano, haverá chuvas recorrentes. Então, todo mundo sabe que vai ter deslizamento, vai ter desabamento em torno das chuvas. Assim também é esse período que nós estamos agora. Nós já sabemos que vamos enfrentar estiagem e seca. Porque não tem planejamento. Então, precisa de um planejamento de curto prazo, que é a questão de emergenciais que falta hoje na cidade.

MN – Pode dar um exemplo de algo que precisa ser implantado?

Rodrigo Más – Por exemplo, não tem coleta seletiva. Precisa implantar logo de cara. A questão dos catadores, por exemplo. Você não tem uma organização do setor dos catadores recicláveis hoje. Você precisa organizar, não só do ponto de vista da pessoa jurídica, mas no ponto de vista operacional. Precisa dar um aporte para eles de dinheiro público, porque a sociedade mariliense não entendeu ainda a função socioambiental do catador. Na medida que o catador recolhe aquele volume que você colocou para fora como lixo, ele recolhe o que dá para ser reaproveitado, reciclado. Ele está diminuindo o volume que a gente paga no transbordo. Ou seja, ele dá uma mitigação no gasto do dinheiro público. Em contrapartida, ele não tem nada do poder público. Então, nós precisamos pegar essas pessoas, organizá-las, dar condições de trabalho para elas. Não podem ser personagens invisíveis no desenho urbano. Precisamos tirar elas da precariedade da relação do trabalho. Então, nós temos umas pautas emergenciais.

MN – Quais pautas que você classifica de médio prazo?

Rodrigo Más – As pautas de médio prazo são aquelas que a gente pode começar a trabalhar, por exemplo, com ecopontos, começar a trabalhar com uma perspectiva, trabalhar projetos para a instalação de uma usina de lixo, ampliar a coleta seletiva na região central e nas quatro zonas da cidade, esse é médio prazo. E a longo prazo, você vai fazer uma análise para 15, 20 anos, para que você tenha uma estimativa populacional de Marília. Marília daqui 20 anos. Qual vai ser a população de Marília? Vamos supor, um exemplo, ela vai atingir 400 mil habitantes? Ela pode atingir 400 mil habitantes. Ela vai precisar de equipamento público, comunitário, para atender a demanda. Ela vai ter uma oferta grande de implementação de cisternas, captação de águas de chuva, sobretudo nos prédios públicos? Existe uma lei para a implantação de cisternas na cidade? Ela já existe e está sendo cumprida? Precisamos de uma arborização programada, com espécies capazes de fazer o sequestro do CO² que é derramado na cidade. Você precisa prever o futuro com ferramentas que darão resultado para essa população, que pode chegar daqui 15, 20 anos, uma população de 80, 90 até 100 mil habitantes a mais. Esse seria o longo prazo.

MN – Como você tem visto as campanhas políticas?

Rodrigo Más – Eu vejo que a pauta é levantada, só que eu percebo que a pauta precisava ser mais aprofundada. Eu vi propostas interessantes, por exemplo, do parque linear dentro da cidade, que é uma proposta interessante. Eu tenho um filho que tem sete anos, oito anos e minha filha tem dez anos. Eu gostaria de levá-los em um local para que eles tenham informações, um curso, um workshop. Que possam passar um dia ali, ou que seja algumas horas, sobre educação ambiental. Onde eu levo eles? Eu não sei te falar. A cidade não tem programa de educação ambiental. Então isso é terrível. Eu posso ficar aqui falando para você cinco horas sobre o meio ambiente, o dia inteiro, mas se a gente não tiver nada sobre educação ambiental, nada vai acontecer, porque toda mudança começa pela educação. Toda mudança começa pela tomada de consciência. Em Marília não tem educação ambiental.

MN – Os candidatos se preocupam com a questão da educação ambiental?

Rodrigo Más – Paralelamente a essas ações que nós precisamos tomar, nós precisamos também iniciar uma educação ambiental. Eu estou vendo entre os candidatos algumas propostas interessantes, outras eu vejo que são certas falácias, mas eu penso que deve ser mais aprofundada essa questão. Porque a pauta do meio ambiente não é uma pauta bonitinha no discurso político. Para o candidato que ainda não entendeu que a questão ambiental é uma relação estratégica de governabilidade, ele ainda não está preparado para ser gestor de uma cidade igual a Marília. Meio ambiente é uma relação estratégica de agenda pública, de política pública. Está incluído água, está incluído esse impacto ambiental que nós estamos sofrendo agora, com esse calor exaustivo. E aí, o que a gente vai fazer com essa temperatura que cada vez sobe mais? Então, quando eu for construir uma creche, um curso de saúde, eu tenho que pedir para o arquiteto observar as relações da carta solar, as relações de ventilação cruzada, as relações térmicas desse prédio. Eu não posso construir um prédio que não foi observado isso, pois depois eu vou ter que instalar ar-condicionado em tudo, por faltar a ventilação no prédio.

MN – É algo que precisa ser estratégico do próximo governo?

Rodrigo Más – É uma pauta muito estratégica que todo candidato tem que aprofundar nela hoje. É um caminho sem volta para a questão ambiental. Tem um que eu percebi que ele tem uma consistência, sim. Porque ele propõe um projeto que é executível. É um projeto que coloca a cidade em outro patamar. Está precisando urgente desse projeto que ele propôs. Ele fala como ele vai fazer. Pretende buscar recursos. Eu estou aí há mais de 10 anos nessa área e tem recursos dentro do Ministério da Cidade. Tem vários recursos aí que dá para buscar e realizar esse projeto, sim.

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‘As pessoas passaram a ser seu próprio veículo de comunicação’, diz Fernando Garcia https://marilianoticia.com.br/as-pessoas-passaram-a-ser-seu-proprio-veiculo-de-comunicacao-diz-fernando-garcia/ Sun, 29 Sep 2024 08:00:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=609670 O jornalista e ecologista Fernando Garcia nasceu em Garça, em uma família de origem humilde. Cresceu na Vila Rebelo, próximo do popular “Buracão”, em uma área considerada carente da cidade. Seus pais trabalharam no comércio e mais tarde se tornaram funcionários públicos. Fernando se formou em escolas públicas e conviveu com colegas de origens igualmente […]

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Jornalista e ecologista Fernando Garcia é um dos responsáveis pelo projeto Doce Futuro e Agrofloresta (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)

O jornalista e ecologista Fernando Garcia nasceu em Garça, em uma família de origem humilde. Cresceu na Vila Rebelo, próximo do popular “Buracão”, em uma área considerada carente da cidade. Seus pais trabalharam no comércio e mais tarde se tornaram funcionários públicos.

Fernando se formou em escolas públicas e conviveu com colegas de origens igualmente humildes na periferia. Desde cedo, a comunicação parecia ser um talento natural. Mesmo enquanto estudava mecânica na atual Escola Técnica Estadual (Etec) Monsenhor Antônio Magliano, conhecida na época como CEI, se destacava montando jornais em cada ambiente por onde passava. Foi nesse período que criou o jornal “O Tagarela”.

A escolha da carreira, porém, não foi óbvia. Na época do vestibular, Fernando estava dividido entre seguir a agronomia, um campo pelo qual tinha grande interesse, especialmente em relação à produção, sustentabilidade e segurança alimentar que, na época, ainda não eram chamados por estes termos modernos. Entretanto, foi a mãe de Fernando que o incentivou a seguir a comunicação, observando o seu talento nato para o jornalismo.

Primeira experiência profissional foi na Rádio Clube de Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

Fernando Garcia ingressou na Universidade de Marília (Unimar), onde fez parte da terceira turma do curso de Jornalismo. Ele trabalhou em rádios de Marília no início da carreira e também foi assessor de imprensa, até ingressar na TV Record, onde trabalha há 21 anos como repórter.

O jornalista nunca deixou de lado a paixão pela agricultura e há alguns anos, com a ajuda de outros três voluntários, criou o projeto Doce Futuro e Agrofloresta, que cuidam de uma área pública no bairro Maracá, zona norte de Marília. Pesquisas científicas estão sendo realizadas no espaço, com a criação de abelhas e até mesmo reintrodução de espécie que já havia sido extinta no Estado de São Paulo.

Garcia plantou mais de duas mil árvores e é um dos responsáveis pelos cuidados no local, até mesmo no combate a incêndios criminosos registrados no local. Uma horta é desenvolvida no lote, o que garante doações para pessoas da comunidade e também para entidades assistenciais de Marília.

Apesar das multitarefas diárias, Fernando Garcia encontrou tempo para um bate-papo, onde vai contar um pouco da sua história na Entrevista da Semana do Marília Notícia.

***

MN – Como foi sua infância em Garça?

Fernando Garcia – Eu nasci em Garça, em 1977, em uma família muito pobre. Eu morava na Vila Rebelo, perto do conhecido “Buracão”. Eu tive uma infância muito pobre e meus pais foram estudar depois de já casados, com os filhos praticamente criados. Eles trabalhavam no comércio e depois se tornaram funcionários públicos. Foi quando a nossa condição melhorou um pouquinho. Mas eu estudei [mesmo assim] 100% em escola pública. Sempre estudando com as crianças mais pobres.

MN – Como surgiu seu interesse pelo jornalismo?

Fernando Garcia – Por onde eu passei, sempre montei um jornal. Fui fazer mecânica no CEI e montei um jornal que chamava “O Tagarela”. Fazia um jornal da sala, jornal mural. Quando chegou a época de fazer vestibular, eu estava muito em dúvida, mas muito mesmo.

Fernando Garcia cobrindo protesto que fechou pistas da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – O que você pensava?

Fernando Garcia – Queria fazer agronomia. Eu gostava muito de planta, sempre gostei muito dessa questão da produção, da sustentabilidade, dessa questão da segurança alimentar, que não tinha esse nome na época, mas eu achava muito importante. Ainda acho uma profissão extremamente importante, a agronomia. Minha mãe dizia que eu era muito comunicativo, que sempre montava jornais e disse que era uma boa opção para mim. Eu nunca tinha pensado, mas gostei da ideia.

MN – Você fez jornalismo em Marília?

Fernando Garcia – Fiz a Unimar. Sou da terceira turma da Unimar. Foi muito engraçado, porque era muito difícil naquela época arrumar um estágio, arrumar um emprego. Eu precisava fazer estágio e pedi uma oportunidade em uma rádio em Garça, mas não quiseram nem de graça.

MN – Em qual rádio?

Fernando Garcia – Na Rádio Universitária. Não passei no teste. Não acharam legal e eu fiquei bem desanimado. Fiquei bem triste, mas aquilo também me motivou bastante. Comecei a procurar uma oportunidade, até que eu bati aqui na Rádio Clube de Marília. Tive sorte que um cara tinha acabado de sair. Então o Jota da Cruz, locutor esportivo, perguntou seu eu sabia falar ou se já tinha falado em algum lugar. Falei que sim, mas era mentira. Não sabia nada, mas fui convidado para fazer um teste.

MN – Como foi esse teste?

Fernando Garcia – Era para chegar 6h da manhã e eu estava muito ansioso. Cheguei umas 5h. Fiquei bem nervoso e ele me fez um teste. Eu entrei ao vivo na rodoviária, tremendo e morrendo de medo. Achei que tinha sido uma porcaria, mas ele gostou e comecei a trabalhar no dia seguinte.

MN – Nessa época, qual foi a reportagem mais impactante que você cobriu?

Fernando Garcia – Dois meses depois de começar na rádio, eu estava saindo para fazer uma entrada ao vivo na Examar, mas esqueci o documento do carro. Eu estava saindo com o carro da rádio, esqueci o documento e voltei para pegar. Na hora que eu entrei na redação para pegar o documento, o telefone tocou. Eu fiquei com a mão em cima do telefone, pensando se atenderia ou não. O carro estava ligado do lado de fora e peguei o telefone. Era uma mulher falando de um avião que havia caído.

Fernando Garcia trabalha há quase 30 anos com jornalismo em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como foi receber essa notícia?

Fernando Garcia – Eu duvidei na hora, mas ela disse que morava em um edifício e que tinha visto o avião caindo. Nisso eu já escutei o Corpo de Bombeiros, vindo do Vista Alegre. Eu larguei o telefone, entrei no carro e saí correndo. Saí da Rádio Clube e quando cheguei ali no Kieza, a viatura do resgate estava passando e eu fiquei atrás. Cheguei lá e realmente tinha um avião caído.

MN – Você foi um dos primeiros a chegar lá?

Fernando Garcia – Só tinha uma viatura dos Bombeiros. O Alexandre de Souza, fotógrafo que na época eu não conhecia, estava sendo socorrido. O avião estava caído no corredor da casa, com uma asa caída para o lado de fora. Tinha muito combustível no local. Eu estava atônito com tudo aquilo.

MN – Você entrou ao vivo?

Fernando Garcia – Liguei na rádio e o Amarildo estava fazendo uma propaganda. O sonoplasta não queria passar para ele enquanto não acabasse. Ele bateu no vidro e comentou com o Amarildo, que me chamou na hora. Isso era umas três da tarde.

MN – Sentiu muita adrenalina?

Fernando Garcia – Muito. Foi algo de realmente de tremer. Foi a primeira sensação. Foi muito inusitado, porque o menino que morava na casa, abriu um portãozinho lateral e começou a gritar: “meu Deus!”. Ele estava dormindo e não escutou o avião caindo. Eu com o microfone na boca dele e ele estava desesperado que o avião tinha caído na casa dele. Se fosse hoje você saberia já pelo WhatsApp, mas quando você chega no local e se depara com um fato extraordinário, que você vai ter que contar ele do início, você tem que se acalmar para contar aquilo que realmente é algo incrível e que marca muito.

Recente reportagem para o Jornal da Record (Foto: Reprodução/TV Record)

MN – Você disse que não conhecia o Alexandre de Souza?

Fernando Garcia – Não conhecia ainda. O Alexandre de Souza falou com a mãe dele que estava indo pegar um avião no Aeroclube de Marília para fazer umas fotos aéreas e ela estava ouvindo a rádio no momento em que eu dei a notícia da queda. Ela saiu na rua desesperada. É uma sincronicidade que eu entendo que não é aleatória. Depois de tudo aquilo, eu achei que eu servia para a profissão. Foi só então que eu achei que daria certo.

MN – Você ainda ficou muito tempo na Rádio Clube?

Fernando Garcia – Continuei na rádio e fiquei um bom tempo lá. Depois eu fui trabalhar na Rádio Dirceu, que era uma coisa muito mais engessada. Era um veículo que tinha já um viés político, mas foi uma experiência de ter trabalhado com o Zé Henrique. Aprendi muito e também foi uma baita de uma escola, mas eu não desenvolvi meu potencial. Teve alguns cortes lá e eu fui demitido. Foi quando o Amarildo me chamou para trabalhar na TV, no Canal 13.

MN – Como foi essa primeira experiência com vídeo?

Fernando Garcia – Ali foi o suprassumo mesmo. Fiz muito factual, mas também assuntos da sociedade, das angústias do povo. Falamos sobre pessoas sem remédio, sem consulta, sem comida. Foi quando eu tive um contato com o jornalismo do ponto de vista humanístico, que me tocou bastante. Pensei que eu poderia alterar a realidade das pessoas. Foi quando eu percebi que eu podia, através do meu trabalho, alterar a realidade das pessoas. Gostei muito daquilo. Pessoas não tinham voz e não conheciam os caminhos, enfrentavam muitas dificuldades. Se não é a imprensa mostrar, cobrar, acionar, as coisas realmente acabam não acontecendo. Foi quando eu me deparei com esse jornalismo e foi muito legal. Foi uma experiência realmente que eu trago até hoje. Essa pegada social, de alterar a vida das pessoas, de poder influenciar a vida das pessoas de forma benéfica, realmente é uma coisa muito marcante, muito maravilhosa do jornalismo.

MN – Como você vê a possibilidade de ajudar as pessoas por meio do seu trabalho?

Fernando Garcia – A gente divulga o problema da pessoa e a matéria foi para o ar, mas para ela ainda é um espinho na carne. Ela ainda continua com aquele problema. Ainda não melhorou. Trata-se de resolver realmente o problema da pessoa. A pessoa entender que ainda há pessoas com quem ela pode contar. Ela é uma injustiçada do sistema político e da questão social. Só está tentando sobreviver com as suas próprias forças e se vê sem uma luz no fim do túnel. Então quando ela te liga, ela não te liga por capricho, ela te liga porque você é o último recurso que ela tem e você ser o último recurso de uma pessoa, ao mesmo tempo, é muito triste, mas ao mesmo tempo, te dá mais responsabilidade para o trabalho que você executa. Uma pessoa não é só uma entrevista, ela é uma pessoa. Ela não é uma matéria, ela é uma pessoa.

Prestes a completar 21 anos de TV Record, Fernando Garcia já se tornou um patrimônio da emissora (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quanto tempo já que você tá nessa área?

Fernando Garcia – Em abril do ano que vem vou completar 28 anos de jornalismo, sendo que agora, no dia 13 de outubro, completo 21 anos de TV Record.

MN – Como foi o início da Record aqui em Marília?

Fernando Garcia – Eu fiz assessoria de imprensa no Ciesp e fui assessor sindical. Aprendi bastante sobre um monte de coisa, principalmente sobre relacionamentos interpessoais. Depois disso, fui chamado para trabalhar na Record em 2003, com o Amarildo de Oliveira. Ele foi para a TV Record e me chamou. Fui o primeiro da redação aqui de Marília. Não tinha um computador. Me deram um radinho de escutar a polícia, mas não tinha celular. O diretor na época me deu um bolo de cartões telefônicos. Então eu descia do edifício Rio Negro Center e ia até o orelhão e ligava para as pessoas para marcar entrevista, agilizar alguma coisa.

MN – Você era produtor e repórter?

Fernando Garcia – Produzia e fazia matéria. Foi legal porque foi quando regionalizou o meu trabalho. Eu ia para Assis, Pompeia, Tupã, Ourinhos e várias outras cidades. Era um momento diferente e fiz vários contatos. O pessoal do Movimento Sem Terra (MST) me ligava, avisando que invadiriam uma fazenda. Encontrávamos com eles e fazíamos toda a cobertura. Era um mundo bem diferente do que é hoje, afinal, já são 21 anos. Era só um repórter e um cinegrafista. De lá para cá, cobri visitas de presidente em Lins e Assis. Você passar por uma experiência de entrevistar um presidente, é muito legal também.

MN – Foram muitas coberturas em Marília?

Fernando Garcia – A partir de 2005, 2006, 2007, foram muitas coisas. Tivemos o incêndio no Jornal Diário, depois a morte do Rafael Camarinha, a Operação Oeste. Era um mundo bem diferente, um mundo bem frenético, com coisas muito, eu diria, singulares que acabaram acontecendo. Naquela época da morte do Rafael, eu fui o segundo repórter a chegar. A gente cobriu integralmente. Eu cheguei a dormir na DIG dois dias. Eu e o cinegrafista. Dormimos na DIG, que funcionava na Gonçalves Dias, perto da OAB. Não tinha geração. A fita, você tinha que colocar a fita no ônibus e o ônibus levava para Bauru. Era diferente demais o time.

Fernando Garcia durante evento da TV Record em Bauru (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quando as coisas começaram a mudar?

Fernando Garcia – Acho que o divisor de águas foi quando começa a internet para valer, em 2011, com uma velocidade maior e possibilidade de você gerar pela internet. Foi quando a coisa mudou de figura. Você ganhou o imediatismo na TV. Não tinha WhatsApp, não tinha nada. Você ligava para as pessoas no telefone fixo. A partir dali começou uma evolução muito rápida mesmo. Eu acompanhei o fim da era do jornal impresso, pouco depois de começaram a surgir os primeiros sites de notícias. As pessoas não mais precisavam só assistir TV ou ouvir a rádio, as pessoas começavam a acessar a internet para consumir notícia. Foi quando a concorrência tornou o jornal impresso insustentável e a água começou a bater na bunda da televisão. Porque a televisão até então tinha a supremacia do imediatismo, o rádio também tinha a supremacia do imediatismo, mas passaram a não ter mais. Passou a ter uma concorrência que está no pé dela até hoje e coloca a televisão já quase que no segundo plano. A TV aberta quase num segundo plano.

MN – Como você vê hoje toda essa mudança?

Fernando Garcia – As pessoas passaram a ser seu próprio veículo de comunicação. A chegada das redes sociais jogaram uma responsabilidade ainda maior. A necessidade mudou bastante. As pessoas começaram a postar e começaram a registrar. Além da internet, outro fator fundamental foi o smartphone. Se você pegar 20 anos, quanta coisa a gente deixava de saber? Você não divulgava porque você não sabia. Ou até ficou sabendo, mas não tinha o registro. Você tinha que ir aos locais. Se tivesse um crime, você tinha que ir lá. Se tivesse um crime em Ourinhos, você tinha que ir lá. Se tivesse um crime em Jaú, você tinha que ir lá. A gente fazia apreensão de droga de madrugada.

MN – Já sofreu pressão e ameaças pelo seu trabalho?

Fernando Garcia – A partir de um certo momento, as pessoas ficaram muito violentas, de te ameaçar de morte, se você divulgasse tal coisa, de querer te sequestrar. Você tinha que ter muito cuidado com aquilo que você falava, com aquilo que você divulgava. Você era ameaçado a todo instante. Ameaças realmente não eram veladas, eram públicas, de quebrar suas pernas, de saber onde mora. Você tinha que desenvolver seu trabalho dentro desse clima pesado. As pessoas achavam que isso só acontecesse na Grande São Paulo, mas a violência contra o jornalista acontecia aqui também.

MN – Você disse que desde o começo sempre teve essa predisposição a fazer a agronomia. Com o passar dos anos isso veio aflorando em você?

Fernando Garcia – Nunca parou. Eu cumpri pena morando em um apartamento. Foi a pior experiência da minha vida. Porque eu sempre plantei, sempre cuidei de coisas, sempre plantei árvores, sempre gostei da natureza, de geografia, de observar os astros. Sempre gostei muito disso. Em 2001 eu comecei a pesquisas sobre abelhas. Nunca parei, mas em 2021 eu conheci o Tiago. Ele tinha algumas abelhas e estava começando um trabalho com criação de abelhas. Ele me chamou para participar e a gente começou.

MN – Foi o início do Doce Futuro?

Fernando Garcia – Tinha uma área pública que tinha acabado de ter um grande incêndio. Parecia uma paisagem lunar. Não tinha nada. Era terra arrasada. Com muita insistência do Tiago, decidi participar disso. Chegou em fevereiro de 2021, falei para ele que participaria do projeto, mas não queria que ele ficasse em grupos de WhatsApp brigando com Prefeitura e reclamando. Se nos dessem ajuda, amém, se não, amém do mesmo jeito. A gente começou a trabalhar e foi montando associação, ao mesmo tempo que comecei como certificador. Conseguimos as licenças necessárias para criação de abelha nativa. O João Tramarim já estava fazendo um trabalho de agrofloresta lá embaixo e foi crescendo. Chegou a ajuda de um vereador, de empresa e aquilo foi crescendo. O trabalho, que era uma vez por semana, passou a ser diário. A gente começou a fazer um monte de coisa e doar alimento, com a ajuda do Coelho. Conseguimos fazer a mina voltar a verter água e as coisas foram positivas.

Fernando Garcia desenvolve importante trabalho no projeto Doce Futuro e Agrofloresta (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Vocês ajudaram no reflorestamento dessa área?

Fernando Garcia – Eu consegui plantar mais de duas mil árvores. Chegou em duas mil árvores e eu parei de contar. A gente tinha até uma competição de quantas árvores diárias alguém plantava. Eu plantei 56 em um dia, consegui plantar sozinho. Fazer o buraco, plantar árvore e jogar água. Dias depois o Tiago bateu o meu recorde pessoal, plantando sozinho 60 árvores. O recorde do projeto ainda é dele. É uma competição maravilhosa e a coisa foi crescendo. O seu Valdomiro veio para fazer horta e a gente criou modelos, para justificar nossa presença. A água é da Prefeitura, a energia elétrica também, pois se trata de uma área pública. Essa terra tem uma função social. Nós temos que atender essa expectativa.

MN – As pessoas procuravam vocês durante a pandemia?

Fernando Garcia -Veio a pandemia e as pessoas com fome. Muitas pessoas foram atrás do projeto, em busca de alimentos.

MN – O que vocês plantam lá?

Fernando Garcia – Milho, mandioca, alface, couve, frutas de todos os tipos que você possa imaginar. Lá na Agrofloresta, principalmente, eles plantam feijão. Muita gente foi atrás. Famílias que perderam completamente a sua forma de adquirir o alimento e começaram a ir lá a buscar alimento. A gente nunca divulgou isso, em respeito a essas pessoas. Um jornalista, dois pintores e um lavrador. Quatro pessoas que tocam esse projeto. Aumentamos a horta, automatizamos as coisas. Hoje nós doamos os alimentos, por exemplo, para Associação de Combate ao Câncer e para pessoas carentes do bairro. Não fazemos nenhum tipo de venda. Temos a intenção de aumentar ainda mais isso, Expandir isso, agregando mais tecnologia e novos parceiros.

MN – Como é essa busca por parcerias?

Fernando Garcia – A gente já está buscando parceiros nos Estados Unidos. Algumas pessoas nos procuraram pelo nosso trabalho. Ele é reconhecido em documento na assembleia geral da Organização das Nações Unidades (ONU). Temos três pilares que são a criação de abelhas nativas em risco de extinção, a agrofloresta e o reflorescamento. Pretendemos agregar tecnologia e tornar isso muito maior, mas a gente não tinha essa expectativa. A gente só queria plantar uma coisinha ali, plantar árvores e criar algumas abelhinhas.

Fernando Garcia observando manejo de abelhas no projeto Doce Futuro e Agrofloresta (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Hoje são várias espécies de abelhas?

Fernando Garcia – Hoje a gente cria 21 espécies de abelhas nativas. Somos criadores de uruçu-amarela. Somos reintegradores dessa espécie na natureza. Tudo isso com certificação e autorizações especiais que a legislação requer. A gente vai reintroduzir uma espécie extinta na natureza. Então, assim, é o suprassumo de quem se predispôs, há quatro anos, fazer uma atividade. É muito gratificante.

MN – Vocês criam abelhas de diferentes espécies e existe briga entre elas?

Fernando Garcia – Não, porque a gente tem um manejo específico, mas se você colocar uma ao lado de outra, teria problema. Existe uma territorialidade que você tem que respeitar, com manejos específicos.

MN – Vocês recebem escolas e estudantes no projeto?

Fernando Garcia – Muitas pessoas na Prefeitura ou escolas procuravam, querendo levar alunos, mas essa não era a nossa pegada. Entendemos que a presença do ser humano já é degradante no ambiente. Então trazer um monte de gente não faz muito sentido. Sem contar que pode acontecer algum acidente. É uma área que tem cobra e aranha. Existem perigos físicos, mas começamos a fomentar pesquisa científica. A professora Flávia e a professora Renata Bonini foram lá. Elas são do curso de Tecnologia e Produção de Alimentos da Fatec. Nós introduzimos elas no mundo das abelhas e a partir desse momento, o pessoal da Fatec começou a desenvolver pesquisas científicas com mel, abelhas e derivados. Já são três artigos publicados em revistas internacionais do gênero.

MN – Já existe um processo de expansão?

Fernando Garcia – Expandimos com a Unimar. Nossa associação foi incubada pela Insol, que é a Incubadora Solidária da Unimar, que nos ajudou sobremaneira na parte legal, na parte fiscal, na parte organizacional, que é uma coisa que faltava pra gente. A gente dá curso para alunos da Veterinária da Unimar. Foi montada a liga de biotecnologia para pesquisar também, entre outras, principalmente os derivados de mel de uruçu-amarela, jatai e da abelha mandaguari. Futuramente vamos fazer o sequenciamento molecular do mel da uruçu-amarela, da mandaguari e da jatai, para descobrir novas moléculas, entender quais são as moléculas do mel e do própolis, além da finalidade dessas moléculas para aplicação farmacológica, para a indústria farmacêutica, e isso tudo surgiu do trabalho de dois pintores, de um jornalista e de um lavrador em uma área pública, sem qualquer tipo de recurso.

MN – Vocês tiveram muitas dificuldades?

Fernando Garcia – Muita. As pessoas falam de meio ambiente da boca para fora. Os políticos falam de meio ambiente da boca para fora. Eu não tenho do que me queixar do prefeito Daniel. Ele foi muito solícito. O Levi Gomes nos ajudou sobremaneira. O Marcos Rezende também nos ajudou desde o começo. Até o Eduardo Nascimento nos ajudou. Tivemos o apoio da Secretaria de Limpeza Pública, nos ajudando a limpar a área várias vezes. A água é paga pela Prefeitura e a energia elétrica também. Todo recurso é utilizado de uma forma com muito respeito. Nunca ninguém lavou a roda de um carro. Nunca ninguém utilizou a energia para qualquer outro fim que não fosse do projeto, mas existe dificuldade na questão da burocracia. Ainda tem muita burocracia e isso trava muito, poderia desenvolver muito mais. Existe uma parte sobre a nossa permanência na área, sobre as autorizações de permanência, que eu acho que a administração poderia ter encampado e pego como um norte para ela e nos ajudado mais. Eu acho que é uma área que já poderia inclusive ter sido doada para a gente, para poder desenvolver a atividade de uma forma com uma segurança jurídica um pouco maior.

Fernando Garcia no projeto localizado no Jardim Maracá, na zona norte de Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Por qual motivo acha que isso ainda não saiu?

Fernando Garcia – Existe um certo ciúmes de algumas pessoas no mundo do meio ambiente. São raros os ambientalistas operativos. Existe uma grande maioria de ambientalistas simbólicos de Facebook. Não basta você plantar uma árvore no meio ambiente e largar ela lá. Nós plantamos e nós cuidamos. Nós combatemos o fogo, somos brigadistas. A gente ajuda a Defesa Civil em combate a incêndio. Esse é o ambientalista, o ecologista operativo. Aquele que realmente vai lá e vai realizar. Isso causa um certo ciúmes naquele que é o ambientalista de Facebook. Teórico, simbólico e de Facebook, que muito teoriza e pouco realiza.

MN – Os candidatos para a Prefeitura de Marília estão abordando essa questão ambiental?

Fernando Garcia – Não vi candidato aqui da nossa cidade falar sobre meio ambiente, sobre preservação do meio ambiente ou sobre encher a cidade de árvores. A cidade não é arborizada. Você não tem uma patrulha para plantar, aguar, adubar e cuidar dessa árvore até dois anos de idade. Você não vê as pessoas falando nisso. Foram oito anos com o Daniel Alonso. A construção das estações de tratamento de esgoto foi algo incrível. Isso vai gerar benefícios para o interior do Estado de São Paulo, mas muitas outras coisas foram negligenciadas. Esse o trabalho de ecologista é uma coisa que me completou como ser humano.

Cobertura de incêndio na cidade de Pompeia (Foto: Arquivo Pessoal)

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‘Era raro você ver uma menina jogando futebol’, diz capitã do MAC feminino https://marilianoticia.com.br/era-raro-voce-ver-uma-menina-jogando-futebol-diz-capita-do-mac-feminino/ Sun, 22 Sep 2024 11:40:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=607659 A equipe de futebol feminino do Marília Atlético Clube (MAC) faz a sua última partida na principal divisão do Campeonato Paulista nesta próxima quarta-feira (25), contra o Corinthians, no Estádio Bento de Abreu Sampaio Vidal, o Abreuzão, em Marília. Em campo, a capitã do time se destaca com a camisa do Tigrão. Com 44 anos, […]

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Gi está há quase 20 anos jogando futebol em Marília (Foto: Divulgação/Cristian Cabrini)

A equipe de futebol feminino do Marília Atlético Clube (MAC) faz a sua última partida na principal divisão do Campeonato Paulista nesta próxima quarta-feira (25), contra o Corinthians, no Estádio Bento de Abreu Sampaio Vidal, o Abreuzão, em Marília. Em campo, a capitã do time se destaca com a camisa do Tigrão.

Com 44 anos, Gislene Francisca de Matos ou simplesmente Gi é o principal nome da equipe, ainda com fôlego para correr atrás das adversárias e sair jogando, com muita habilidade e refinado toque de bola.

O início no esporte foi jogando nas ruas de São Paulo, junto com seus irmãos e amigos. Ela percebeu que era boa de bola quando estava com 15 anos. Ela era a única garota jogando com os meninos, mas isso não impediu que continuasse brincando, até que passou em uma peneira no Corinthians.

Corinthians contava com Gi e com a ex-esposa de Ronaldo Fenômeno, Milene Domingues (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando o projeto do Timão terminou, após cerca de dois anos no Parque São Jorge, ela ainda defendeu as cores do Palmeiras, antes de vir para jogar futebol em Marília e não deixar mais a cidade. Além do time de campo, também joga pelo time do futsal e concilia o esporte com o trabalho.

A atleta atendeu a equipe do Marília Notícia para contar um pouco de sua história de vida, que foi sempre de muita luta, determinação e amor ao esporte, um verdadeiro exemplo para meninas que sonham em seguir seus passos e também fazer carreira no futebol.

***

MN – Você nasceu em São Paulo?

Gi – Sou de São Paulo e vim para Marília, senão me engano, em 2005 ou 2006.

MN – Qual o motivo da sua mudança aqui para Marília?

Gi – Foi para jogar bola mesmo. Tem uma moça que jogou comigo no Palmeiras e ela tinha comentado sobre o time daqui. Então eu pensei em vir e ver o que dava. Eu vim, fiz uns dois, três jogos aqui para Marília. O pessoal gostou, eu voltei para São Paulo, pois eu estava disputando um campeonato de futsal lá. Quando eu acabei o campeonato, eu vim para cá e fiquei por aqui. Eu só ia no meio do ano e no final do ano para São Paulo.

MN – Como foi o início aqui em Marília?

Gi – Faz bastante tempo. Eu vim aqui para jogar em campo. Quando eu cheguei, o Carneiro tinha acabado de desligar do time. Era o Marinho e o Sérgio na época. Como a gente tava jogando o futebol de campo, apareceram as competições de futsal. Na época era a TV Record e a TV Tem. E eles nos colocaram para disputar o futsal também. A gente treinava campo e futsal.

MN – Seu primeiro time em São Paulo foi o Corinthians?

Gi – Eu tinha 17 anos na época e fiz uma peneira. Um amigo me falou que ia ter uma peneira no Corinthians. Eu não queria fazer, porque eu tinha medo na época, mas ele me trouxe o endereço e eu falei para minha família. Meu pai me apoiou e eu decidi fazer. Acho que chegou a dar quase duas mil meninas para fazer o teste. Fiz umas três peneiras e fui selecionada para uma competição society. Foi quando abriram as portas para entrar no time sub-20. Quando acabou a competição, já fui para o time principal.

MN – Você jogou quanto tempo no Corinthians?

Gi – Joguei uns dois anos e meio. Nessa época, a Milene Domingues, que depois casou com o Ronaldo Fenômeno, era do time.

MN – Ficou no Corinthians até o projeto do futebol feminino acabar?

Gi – Na época não tinha patrocínio. Era mais o clube que bancava e eles acabaram com o time. Como o meu treinador tinha amizade com um pessoal do Palmeiras, a gente conseguiu ir para o Palmeiras. Ele pegou uma jogadora ou outra e levou para o Palmeiras. Ele montou uma equipe legal pelo Palmeiras, na época era a Sabesp que patrocinava, por causa do futsal. A maioria das meninas jogava futsal.

Gi já defendeu as cores do Palmeiras (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Atuou por mais algum time?

Gi – Eu joguei um pouco em Santos.

MN – Quando você veio para cá já sabia que ia jogar futsal também?

Gi – Não. Eu jogava o campo, mas depois a gente parou com o campo e entrou só o futsal.

MN – Em São Paulo você tinha outra atividade além do futebol?

Gi – Não. Lá só era só o futebol mesmo. Eu só jogava mesmo, porque era muito puxado. Não tinha como. O horário pegava quase o meu dia inteiro.

MN – Você morava longe?

Gi – Eu morava longe. O nosso treino começava 8h, mas quando era 6h eu já estava no ponto de ônibus. A gente chegou a treinar lá no Terrão, onde a molecada treina hoje. Os nossos testes foram feitos lá no Terrão.

MN – Como foi mudar para Marília?

Gi – Eu fui conhecendo o pessoal que tocava o projeto. Parecia ser algo legal. Eu cheguei da capital e, para mim, era tudo novo. Por mais que eu joguei na capital, no interior eu via coisas diferentes. O pessoal querendo abraçar mesmo os projetos. Querendo que fosse para frente de verdade. Não que em São Paulo não é assim, mas as coisas são totalmente diferentes. Eu tinha visto alguns jogos delas antes de jogar. Uma menina que morava aqui em Marília chegou na seleção brasileira. E eu vi que o projeto era bacana. Não era algo que ia acabar de um ano para o outro. Isso foi me deixando interessada para poder vir. Eu conversei com o pessoal da minha família e deu certo vir para cá.

Gi comemora gol jogando futsal em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Desde então você não saiu mais de Marília?

Gi – Eu fiquei só aqui, inclusive, recebi bastante proposta para sair, mas preferi ficar. Não dava pra trocar o certo pelo duvidoso.

MN – O que mais você gostou aqui de Marília?

Gi – A calmaria e o acolhimento das pessoas. Quando eu vim para cá, querendo ou não, vim sozinha. Eu não tenho familiar nenhum aqui. Então eu conheci pessoas que me acolheram, me deram forças para eu continuar. Porque querendo ou não, você ir longe da sua família de imediato, assim, não é para qualquer pessoa. Em São Paulo para você ir num lugar, perde umas duas horas, aquela loucura. Aqui não.

MN – Você fez muitas amizades por aqui?

Gi – Sim, bastante. Inclusive tem um pessoal que me conhece e fala que eu pareço vereadora, pois todo mundo me conhece, mas eu também trabalho na feira. A gente fica ali e vai batendo um papo, conversando com as pessoas. Quando me encontram, o pessoal já chega me cumprimentando.

Gi jogando bola pelo Marília Atlético Clube no Abreuzão (Foto: Divulgação)

MN – Além do futebol, você sempre teve outro emprego?

Gi – Não. Eu só fazia o futebol. Assim que eu cheguei aqui era só futebol mesmo. Depois de bastante tempo, tinha duas meninas que jogavam comigo, sendo que uma, inclusive, era a prima do rapaz que eu trabalho hoje. De brincadeira, a gente estava no alojamento, ela falou, poxa, o meu primo tem a loja aqui do lado, e esses dias ele estava precisando de um pessoal pra trabalhar. Aí na empolgação eu falei que podia me chamar. No outro dia, ele mandou eu ir trabalhar. Ele pega bastante eventos para festa, casamento. Fui lá no primeiro sábado, trabalhei com ele e hoje já faz 11 anos que eu tô com ele. Além dele, depois apareceu o rapaz que eu trabalho de sábado e domingo, que é no pastel na feira. Depois apareceu outra pessoa que eu trabalho também, que é com os brinquedos infláveis. A gente leva, às vezes eu fico como monitora também, nas festas infantis.

MN – Como está a estrutura do futebol aqui em Marília? Melhorou em relação aos anos anteriores?

Gi – Esse ano a gente já teve um time que disputou uma competição importante. Cada ano evolui um pouco. A gente só precisa de espaço, na realidade. O pessoal do MAC abraçou nosso time e conseguiu colocar a gente no Paulista, na Série Especial. Aí a gente conseguiu levar o título e em seguida eles abriram portas para a disputa do Paulistão Feminino. Foi uma vitória tremenda, para a cidade e para as meninas. Querendo ou não, tem menina aqui que nunca disputou uma competição desse nível. É difícil, mas o prazer de você estar competindo é tremendo.

MN – No Paulistão, o time não conseguiu bons resultados, mas todos viram o esforço e determinação de vocês. Como vocês avaliam esse apoio recebido?

Gi – Não que a gente não quer jogar para ganhar, não é isso, mas é só da gente estar ali, o prazer de estar fazendo aquilo, representando a cidade, do nível que é a competição. Tem menina que trabalha antes das 10h, quando é 10h está lá no treino, depois dali já sai para ir trabalhar direto. Eu trabalho à tarde, então de manhã não interfere, mas tem menina que sai do trabalho, vai treinar, depois já volta a trabalhar de novo. Então, sim, para nós é uma vitória. De verdade mesmo, só de a gente estar ali na competição e o nível que ela é, para nós não tem nem como falar.

MN – Quando vocês jogaram contra a Ferroviária, no final do jogo, você foi homenageada pela equipe adversária. Como foi isso para você?

Gi – Foi uma homenagem que elas fizeram, pela idade que eu tenho e ainda jogando futebol. A treinadora falou que, como ela já sabia que iria jogar contra nós, ela queria fazer a homenagem, também para o Marinho, pelo tanto de tempo que ele está no meio do futebol. Às vezes, tem menina nova que não faz o que eu consigo fazer com a minha idade. Me pegaram de surpresa e eu não conseguia nem responder. É muito gratificante.

MN – Como você vê a evolução do futebol feminino?

Gi – Hoje a gente comenta muito sobre isso. Antigamente era raro você ver uma menina jogando futebol. Para nós era muito difícil. Hoje, onde você chega, você vê uma menina jogando. Cada dia, cada mês que passa, cada ano, o futebol feminino evolui. Na época que eu comecei até agora, é uma evolução muito rápida.

Gi durante treinamento do MAC feminino (Foto: Divulgação)

MN – Como vai ser para vocês jogar o último jogo contra o Corinthians?

Gi – Eu estou pensando que vem o time titular delas. Por mais que elas vão fazer uma final neste domingo, pelo Campeonato Brasileiro, elas podem descansar na segunda para viajar terça e jogar contra nós na quarta. Particularmente, eu queria que viesse o time principal delas, até mesmo para a cidade. Para receber o time do Corinthians, com as atletas que jogaram nas Olimpíadas. Para a cidade vai ser muito legal.

MN – Acha que vai ter casa cheia?

Gi – Eu espero. Só não sei por causa da hora. O jogo será às 17h, numa quarta-feira. Então, eu só não sei pelo horário. Praticamente quem trabalha ainda está no serviço.

MN – Vocês já tão se preparando para outra competição após o Paulista?

Gi – Sim. Começa já no dia 5 de outubro. A gente já joga contra a Realidade Jovem lá em São José do Rio Preto.

MN – O que esperar também dessa partida?

Gi – Uma partida difícil, né? Um time muito bom, de tradição. Independente do que aconteceu do jogo que nós fizemos contra no início do Paulistão, que era tudo novo para nós. A gente está se preparando já para esse jogo também, porque ganhamos bastante experiência estando nessa competição do Paulista.

Gi durante atuação pelo futsal de Marília (Foto: Divulgação)

MN – Você é a mais experiente do time e vê alguma atleta com potencial para alcançar uma seleção?

Gi – Temos nossa goleira, que eu acho seríssima candidata para chegar na seleção. Tem outra de uns 20 anos, que inclusive estava machucada e está voltando agora. A Mayara também é boa jogadora. A Duda que é daqui de Marília também. A Duda é uma boa jogadora que já jogou em Araraquara, no Botafogo e tem 16 anos. São boas jogadoras.

MN – Você sempre jogou de volante?

Gi – Não, não. Eu joguei de atacante já. No Corinthians eu jogava de atacante. Depois no Palmeiras eu joguei de meia. E, quando vim para cá, jogava de atacante também. Depois que fui um pouquinho para o meio e volante agora. Você tem que jogar conforme a sua idade.

MN – Sua família ainda está em São Paulo?

Gi – Meu pai ainda está lá, mas minha mãe faleceu há seis anos. Minha irmã veio para Marília e mora comigo e a filha dela, minha sobrinha. Com elas aqui já é bem melhor para mim.

MN – Muitas meninas vão assistir os jogos de vocês. Como se sente sendo espelho para quem pensa em também se profissionalizar no futebol?

Gi – Eu penso muito nisso. Nada é em vão. Tudo que estamos fazendo hoje é para colher amanhã. Para nós é uma satisfação muito grande saber que a gente consegue mexer com as pessoas, principalmente a molecadinha menor. Eu acho muito legal.

Time do MAC que disputa o Paulistão feminino (Foto: Divulgação)

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‘Prevenção ao suicídio não se faz só em setembro’, diz psicóloga Lu Handa https://marilianoticia.com.br/prevencao-ao-suicidio-nao-se-faz-apenas-no-setembro-amarelo-alerta-psicologa-lu-handa/ Sun, 15 Sep 2024 08:08:00 +0000 https://marilianoticia.com.br/?p=605249 Há sete anos, profissionais de saúde voluntários de Marília dedicam tempo e atenção àqueles que insinuam abreviar o próprio relógio da vida na cidade-sede da 2ª região administrativa com maior incidência de suicídios no Estado de São Paulo. À frente desta corrida em grupo multiprofissional pela vida está a psicóloga Luciana Handa ou apenas Lu […]

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Psicóloga e advogada Luciana Handa, coordenadora do Grupo de Prevenção e Posvenção ao Suicídio em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

Há sete anos, profissionais de saúde voluntários de Marília dedicam tempo e atenção àqueles que insinuam abreviar o próprio relógio da vida na cidade-sede da 2ª região administrativa com maior incidência de suicídios no Estado de São Paulo.

À frente desta corrida em grupo multiprofissional pela vida está a psicóloga Luciana Handa ou apenas Lu Handa, como é conhecida e reconhecida por colegas capacitados por suas formações e, principalmente, pelos pacientes que a procuram.

“Não estamos em um serviço de convencimento, mas de prevenção. Diante do conceito do suicídio como um vazio existencial, acho que cada um tem que fazer a sua parte de cuidar o melhor que possa, em todas as suas dimensões, de sua própria vida”, afirma Handa.

Em entrevista ao Marília Notícia, a psicóloga fala sobre como um suicídio a levou a se dedicar a formar um grupo de prevenção e questiona o sentido do Setembro Amarelo em uma cidade que enfilera doentes mentais com tratamento insuficiente na rede pública.

Além de psicóloga, Handa é formada em Direito. É casada, mãe de um casal e tem uma netinha de um ano. Especializada em suicidologia (pela qual é pós-graduanda), luto, sofrimento extremo e arte-terapia, ela cuida da própria saúde mental enquanto trata a do próximo tendo como hobby o prazer da leitura e a alegria de estar entre amigos.

Apesar de seu propósito informativo, este texto tem conteúdo sensível para pessoas que estejam suscetíveis a eventuais gatilhos provocados pelo tema. Caso precise de ajuda, ligue para o número (14) 9 8173-8246 [clique aqui].

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MN – O que a motivou a especializar-se em prevenção ao suicídio? O psicólogo apreende a lidar com esse fenômeno na faculdade?

LUCIANA HANDA – Nunca tive perda por suicídio em minha família, mas sim no terceiro ano de minha faculdade de Psicologia. Uma de nossas colegas se matou e não sabíamos o que fazer com esta notícia, com esse lugar vazio que ficou na classe. Temos um déficit em nossas grades curriculares de cursos de saúde, tanto na Enfermagem quanto na Medicina, na Psicologia, na Terapia Ocupacional e Fisioterapia. Não nos ensinam como cuidar e manejar o comportamento suicida. Ali no terceiro ano de Psicologia eu percebi que precisava me especializar nesse assunto. Quando as pessoas estão em sofrimento, elas são encaminhadas aos nossos consultórios. Infelizmente nossa classe não está capacitada para receber esse tipo de demanda.

MN – Como a senhora tem ‘compensado’ essa defasagem na oferta de capacitação aos profissionais da Saúde?

LUCIANA HANDA – Temos feito muitas capacitações para psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, para quando atenderem essa demanda em hospitais e postos de saúde. Neste mês de setembro, estamos fazendo a orientação para toda rede de saúde em Marília. É uma orientação técnica sobre como acolher as pessoas em sofrimento. Este trabalho me moveu a montar o grupo de prevenção aos sobreviventes enlutados. Começamos nosso atual grupo de prevenção pelas pessoas em luto a partir da procura pelo apoio a pessoas que tentavam o suicídio. Foi quando observamos esta necessidade em Marília. E é enorme.

Luciana Handa é referência em Marília para palestras sobre o suicídio (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – O que é o Grupo de Prevenção e Posvenção ao Suicídio de Marília?

LUCIANA HANDA – É um grupo que conta hoje com mais de 40 psicólogos voluntários treinados e capacitados para essa demanda de atendimento em prevenção e posvenção ao suicídio. A posvenção é toda atividade que fazemos para minimizar o impacto do suicídio quando ocorre em uma família, numa escola, numa empresa. Atualmente, o grupo oferece palestras, rodas de conversa em escola, trabalhos com crianças e adolescentes e ainda um atendimento psicológico social com valor reduzido para pessoas em sofrimento com fatores de risco para suicídio.

MN – Como é feito o atendimento?

LUCIANA HANDA – A triagem é feita, a princípio, pelo número de WhatsApp (14) 9 8173-8246, conforme consta nos folders que divulgamos nas escolas, em postos de saúde, nas redes sociais. Nós oferecemos este serviço para que as pessoas entrem em contato conosco. Agendamos de imediato a triagem e oferecemos as sessões e psicoterapia com valor reduzido. O atendimento não é gratuito, mas a população consegue ter acesso. Temos psiquiatras parceiros que também oferecem suas consultas com valor reduzido e abrem vagas em suas agendas. Nós encaminhamos os pacientes, atendidos nas clínicas dos voluntários.

MN – Qual é a demanda atual de sua clínica?

LUCIANA HANDA – Atualmente, tenho 15 vagas para valor social, além de minhas demandas particulares.

MN – O apoio às pessoas enlutadas pelo suicídio continua?

LUCIANA HANDA – Sim. Também é uma forma de se trabalhar a prevenção ao suicídio. Famílias que têm suicídio são mais propensas a pensar em desistir. Por isso, prevenimos também quando cuidamos daqueles que ficam. Um luto tão difícil e demorado, cheios de ‘ses’ e de ‘porquês’.

Luciana Handa ministra palestras sobre suicídio e questões relacionadas ao tema em empresas de Marília e região (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quais sinais devem ser percebidos por quem vive próximo a um potencial suicida para orientá-lo ao tratamento?

LUCIANA HANDA – Existem sim alguns sinais de alertas que podemos ficar de olho como isolamento, falas de despedida como ‘estou cansado de viver’, ‘gostaria de dormir e não acordar mais’, ‘vocês não vão mais sofrer e ter preocupações comigo’ e também a doação de pertences pessoais, distribuição de herança antes do tempo. Adolescentes que se autolesionam podem estar muito propensos a querer tirar a própria vida. Mas, devemos sempre mencionar que nem sempre eles ocorrem. Há pessoas que não falam absolutamente nada.

MN – O que leva uma pessoa a tentar contra a própria vida?

LUCIANA HANDA – O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. Nós não temos uma causa única para explicar porque acontece. São vários fatores biológicos, psicológicos, culturais, sociais, pessoais e políticos que provocam um adoecimento existencial na vida do ser humano. Isso precisa ser acolhido e tratado. A pessoa, quando pensa em tirar a própria vida, ela quer tirar uma dor, um sofrimento extremo que tem levado ao desamparo, à desesperança. Na verdade, ela [pessoa] pensa em se livrar disso, e não da própria vida.

MN – O quanto o fator psiquiátrico está relacionado ao suicídio?

LUCIANA HANDA – É importante não atrelar o suicídio a pessoas com transtornos psiquiátricos. Isso não é uma verdade. Os estudos mais recentes já mostram que o distúrbio psiquiátrico é apenas um dos fatores de risco ao suicídio.

Luciana Handa, o marido Roberto Handa e os filhos Beatriz e Rafael (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Quais são os perfis mais comuns às pessoas que tentam contra a própria vida?

LUCIANA HANDA – Precisamos tomar cuidado com isso. Não existem perfis de pessoas que se matam, mas fatores de risco e gatilhos que podem fazer com que a pessoa leve a um adoecimento profundo e extremo e, não conseguindo encarar isso, em algum momento, pense em desistir e a tirar a própria vida.

MN – Como a solidão impacta neste adoecimento?

LUCIANA HANDA – Primeiramente, é preciso saber que tipo de vida que vale a pena ser vivida. É preciso saber entender como temos encarado os obstáculos que a vida nos promove e o que temos feito em relação a isso. Temos estudos em Marília que mostram o peso das relações interpessoais em família e na sociedade no desejo das pessoas de continuarem a viver. Hoje as pessoas vivem mais sozinhas, sem amparo, sem convívio. Inclusive, estudantes em uma cidade universitária como a nossa. O abuso de álcool e drogas facilitam o adoecimento extremo.

MN – Dados oficiais recentes apontam crescimento no número de suicídios em Marília. O que a cidade tem a ver com esse fenômeno?

LUCIANA HANDA – Nós precisamos tomar bastante cuidado quando escutamos algumas notícias de que a cidade de Marília é a ‘capital do suicídio’. Isso é uma inverdade. A região administrativa de Marília, que é composta de vários municípios, é considerada hoje a segunda do Estado de São Paulo onde mais suicídios acontecem. Não é uma questão única da cidade. A exemplo de tantas outras do Estado e do país, nós temos muita dificuldade a acesso à saúde mental.  O atendimento psicológico e psiquiátrico ainda falta em nossa cidade. No entanto, como definimos o suicídio como um fenômeno multifatorial, nós não podemos atribuir somente o alto número de suicídios pela falta deste atendimento. Não pode limitar à parte médica, mas também de esportes, lazer, cultura.

MN – O quanto o preconceito ainda afeta pessoas vitimadas direta e indiretamente pelo suicídio?

LUCIANA HANDA – O suicídio, infelizmente, ainda é um tabu em nossa sociedade. Por não falarmos sobre suicídio e morte, fica difícil para as pessoas compartilharem isso com as outras. Principalmente quando estão em sofrimento, seja com uma dor, um problema. Elas se fecham em virtude deste preconceito porque não conseguem, muitas vezes, serem acolhidas de forma empática e sem uma escuta sem julgamentos, sem dar conselhos, colocando-se disponível para ajudar.

MN – Setembro é amarelo, mas em todos os meses a vida tem desbotado da existência em Marília. Como manter um calendário preventivo o ano todo?

LUCIANA HANDA – Prevenção ao suicídio não se faz apenas no setembro amarelo, com bexigas amarelas, com festividades e plantando girassóis. Isso não é efetivo. Trata-se de uma campanha de conscientização, de algo muito sério. Deve ser uma promoção de vida, saúde, cultural, esportiva, para adolescentes, cujo grupo é um dos mais vulneráveis atualmente. Está muito longe do propagar ‘busque ajuda’, ‘valorize a vida’. Ok, nós podemos ter essa bandeira, mas que tipo de vida queremos que o paciente em sofrimento tenha? Será que ele tem a possibilidade de levar sua vida adiante? Será que essa vida é tão boa que ele precise valorizar?

MN – Como orientar pessoas a buscar ajuda se o sistema público não as atende?

LUCIANA HANDA – A pessoa não está desvalorizando a vida com a ideação suicida. Pelo contrário: tanto valoriza que não quer a vida que tem hoje, em estado de adoecimento. Isso nos faz pensar e tomar muito cuidado na hora que promove ações como o Setembro Amarelo. Por entender que estejamos prevenindo, podemos estar oferecendo um desserviço. Principalmente quando manda a pessoa buscar ajuda, mas temos condições para isso em nosso sistema público de saúde? Hoje nós temos filas de dois, três anos para a psicologia, a psiquiatria. Isso tudo é muito difícil para as pessoas em sofrimento. A prevenção, durante o ano todo, passa por políticas públicas preventivas. Temos muitos locais perigosos que facilitam o suicídio em Marília. As contenções nas estradas, por exemplo, ajudam nisso.

MN – A senhora falou em grupos vulneráveis. Além dos adolescentes que já citou, quais seriam os demais?

LUCIANA HANDA – Temos em primeiro lugar o grupo de idosos com mais de 70 anos. É o que mais se mata no mundo. Qual qualidade de vida estamos proporcionando em nossas cidades para os idosos? Ainda sobre os adolescentes, temos a população de 10 a 19 anos como prioritário de vulnerabilidade. Temos ainda a população negra, a LGBTQIAPN+, os indígenas e profissionais da saúde por terem muito acesso a meios letais. E ainda, pessoa que abusam de álcool e drogas. Todas as ações que fazemos em favor delas são preventivas ao suicídio.

MN – O suicídio assistido é proibido no Brasil. Até que ponto a manutenção da vida, a seu ver, viola a dignidade da pessoa humana?

LUCIANA HANDA – Essa questão é bem complexa. É muito fácil falar que a pessoa precisa viver a qualquer custo. Eu costumo dizer na minha clínica que eu não convenço ninguém a ficar vivo, mas posso pensar junto sobre a possibilidade de melhorar a existência. Porque quando a pessoa quer desistir de viver, de enfrentar os sofrimentos extremos, não tem quem a convença do contrário. Não estamos em um serviço de convencimento, mas de prevenção. Diante do conceito do suicídio como um vazio existencial, acho que cada um tem que fazer a sua parte de cuidar o melhor que possa, em todas as suas dimensões, de sua própria vida. Às vezes, não autorizar a questão do suicídio assistido pode ser sim violar a dignidade humana. Porque aquela vida que a pessoa está vivendo, daquela forma, não se suporta mais. É preciso muito mais debates sobre isso e a conscientização do que estamos fazendo com a própria vida e a das outras pessoas que nos rodeiam nas nossas cidades, no país, no mundo, haja vista todas as dificuldades que temos enfrentado. A fome, a miséria, as mudanças climáticas envolvem o desespero, o desamparo e desesperança, que compõem os comportamentos suicidas. O que temos promovido para que as pessoas queiram viver? Pensemos nisso.

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