Uma hora de ensino que valem por duas
Já mencionamos de forma sucinta a respeito do aproveitamento do tempo em nossas salas de aula em outras colunas. Acima temos um demonstrativo dessa realidade através do levantamento realizado pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Também na mesma coluna, publicada aqui no Marília Notícias em fevereiro deste ano, mencionei que o Banco Mundial apurou que alunos brasileiros perdem em média um dia de aula por semana por conta de desperdício de tempo em sala de aula, gasto com atrasos, excesso de tarefas burocráticas (fazer chamada, limpar a lousa e distribuir trabalhos) e em aulas mal preparadas pelo professor – tempo este que deixa de ser gasto com o ensino de conteúdo, colocando o Brasil 20 pontos percentuais abaixo de padrões internacionais.
Nesta segunda-feira (20/03/2017) o Marília Notícia publicou reportagem onde diz que os professores não tiveram tempo suficiente para passar todo conteúdo de ensino do ano aos seus alunos, informações reunidas através da Prova Brasil realizada em 2015. Este ano teremos uma nova avaliação desta natureza.
Nas próximas colunas irei trazer mais dados obtidos pela Prova Brasil e que merecem reflexão. Como é uma prova extensa e que faz um levantamento completo entre nossos diretores, professores e, também, alunos, abordaremos em várias ocasiões os diferentes temas em função dos diferentes apontamentos da pesquisa.
A Prova Brasil veio para consolidar a questão da disciplina de nossos alunos, na verdade a questão da INDISCIPLINA de nossos alunos, que tem importante interferência no processo de ensino e aprendizagem.
Não podemos esquecer que, mesmo o aluno disciplinado, está sendo prejudicado pelo indisciplinado, já que o professor paralisa a aula para tentar conter o problema. Veja o questionamento feito aos professores e sua resposta a respeito abaixo:
Vamos analisar mais alguns dados da prova Brasil que nos trazem a real percepção da situação insatisfatória de nosso modelo de ensino. Vamos aos resultados da pesquisa quanto ao aprendizado dos alunos, bem como a mais respostas dos professores acerca do exercício em sala de aula de sua profissão docente.
Esses números apontam para a certeza de que nossos alunos tem um déficit acumulado de conhecimento gigantesco. Em duas disciplinas que formam o alicerce para a construção de um bom profissional, qual a consequência, ou uma das consequências desse déficit, denominar-se esses alunos de analfabetos funcionais.
Analfabetismo funcional é a incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidade de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas.
Fica a certeza que a capacidade de sintetização de textos e números de nossos alunos é péssima, esta experiência, de forma mais amadora, foi mensurada nas palestras realizadas pelo Reitor da UniCesumar com os alunos recém ingressantes nos cursos superiores, quando se questiona, aleatoriamente a qualquer dos presentes na palestra, de bate e pronto, para dar um desconto de 15% no valor de R$ 100,00, não conseguem, demoram a responder essa conta simples, pensam, calculam e recalculam, uma lástima.
A UniCesumar, já ciente dessa situação, busca através de nivelamento de matemática e de outras disciplinas que os alunos consigam de alguma forma adquirir um pouco conteúdo perdido, para que consigam acompanhar as disciplinas de seu curso superior. Por exemplo, de disciplina de Cálculo nas engenharias, matéria que normalmente os alunos tem muita dificuldade e é fator decisivo para a evasão ou não do aluno nos cursos de engenharia.
Novamente abordando o levantamento da Prova Brasil 2015, veja alguns resultados apresentados quando dos questionamentos feitos aos professores da rede pública:
Já falamos nesta coluna sobre a necessidade de envolvimento dos pais na vida acadêmica dos alunos, pais descompromissados ou “ocupados demais”, deixam que seus filhos desandem para outro caminho que não o aprendizado, quando percebem, normalmente os danos são irreversíveis ou, apenas parcialmente reversíveis.
Esse acompanhamento deve ser feito inclusive quando nossos filhos estão no ensino superior, quando as “tentações”, as ofertas de “lazer” são maiores e de todos os tipos.
O desinteresse aqui retratado, acredito eu, se deva em maior parte por este aluno não conseguir acompanhar os ensinamentos por não ter a base necessária em decorrência da defasagem de conteúdo que vem se acumulando ao longo dos anos.
A progressão continuada, da forma como está sendo praticada, é um flagelo, o desenho que se fez da progressão continuada era a de que o aluno progredia, mas nas férias de final de ano teria reposição de conteúdo para que recuperasse o que não conseguiu no tempo regular, inclusive havendo avaliações (provas) para que se mensurar a real recuperação de conteúdo do aluno.
Da forma como foi implantada, somente é possível palpar o interesse político de se manter nossos jovens alienados, para servirem de massa de manobra.
A necessidade da implantação da escola de tempo integral é gritante, está evidente que a escola de tempo parcial não consegue passar os conhecimentos necessários ao aluno, tornando esse capaz de progredir de ano e de ao final ser um profissional completo em sua plenitude.
O projeto de escola em tempo integral foi apresentado no final 2014 pelo Reitor do UniCesumar, à época Senador da República, justificando que não é possível para um País alcançar a sua plena autodeterminação econômica e social e, conseguir se inserir no chamado mundo desenvolvido, com capacidade de criar, inovar, fazer nova ciência e novas tecnologias relevantes, com escola básica em regime de tempo parcial.
Ele justifica, ainda, que somados o tempo gasto no momento da merenda escolar, o desperdício em sala de aula com indisciplina e tarefas administrativas e o direito de 25% de faltas, em parte, o modelo posto é promotor de exclusão e, menciona, que os 23% dos alunos que começam o primeiro ano primário não chegam ao nono ano.
Num universo de 29 milhões estamos falando de 6.67 milhões e, também, dos 27% que iniciam o ensino médio não terminam e, no ensino superior, 40% desistem antes do término do curso. Os alunos não aprenderam a aprender, não foram convertidos ao conhecimento.
A intenção era de que em 2017, todos os primeiros anos do ensino fundamental passariam para tempo integral, em 2018, todos os segundos anos e assim sucessivamente, de forma que os governos pudessem adequar seus orçamentos de forma gradativa.
Além disso o segundo período deveria ter 50% de seu tempo dedicado ao ensino de disciplinas como matemática e ou português e não apenas disciplinas lúdicas como já acontecia em pelo menos 10% das escolas.
Na leitura do projeto da escola em tempo integral na comissão de educação do Senado Federal, o também Senador Cristovam Buarque destacou que além do ganho de conteúdo de ensino do aluno no modelo de tempo integral, uma hora que seja, a mais de aula, significa um ganho de duas horas para o aluno, já que é uma hora a mais de aprendizado e uma hora a menos que a criança fica na rua ou, uma hora a menos jogando vídeo games ou, ainda, uma hora a menos vendo programas de televisão impróprios.
Esse é um projeto que deve ser levado a cabo para ontem, nossos governantes precisam cuidar disso imediatamente, já perdemos o melhor lugar do “trem”, resta saber se vamos pelo menos conseguir subir nele.