Quem aprendeu inglês na escola? Levante a mão!
Olá leitores do Marília notícia! Tudo bem com vocês?
Hoje eu estreio uma coluna sobre educação no MN, com a proposta de promover uma série de discussões acerca de temas do cotidiano de nosso sistema educacional, que entendo ter dois “PEQUENOS” problemas, um cultural e outro estrutural.
Exemplo disso é a condição de alienação de nossos alunos em qualquer das etapas escolares, fundamental, médio ou superior, segundo levantamentos técnicos feitos de forma sistemática por diferentes Órgãos e entidades nacionais e internacionais. Várias serão as reflexões tratadas nesta coluna em diferentes oportunidades.
Veja um exemplo pontual disso. Durante todo o ensino médio, tivemos regularmente aulas de inglês na rede de ensino público e privada e, na sua avassaladora maioria, fomos todos aprovados nesta disciplina entre outras. Então pergunto: “Quantos realmente aprenderam inglês de forma satisfatória ao ponto de ser capaz de conversar ou redigir um texto em inglês?
Acredito que praticamente todos que nos leem sabem a resposta, ou não? Este é um clássico exemplo de um dos problemas culturais de nosso sistema e da conduta de nossa comunidade acadêmica.
O primeiro problema permite a progressão de série de forma continuada (tema que será abordado oportunamente) e sem que o aluno tenha adquirido realmente aquela competência e a segunda, a comunidade acadêmica, tem como objetivo “passar de ano”. Ambos deveriam ter como objetivo maior adquirir conhecimento, mas vale entre nós a premissa: “o importante é passar de ano”.
Mas isso está mudando, ainda que lentamente, o mercado de trabalho quer mais. Hoje o conhecimento é considerado o maior ativo que uma organização pode ter.
Vivemos a era da informação e a sociedade do conhecimento e, neste contexto, temos que estar atentos a quais Instituições realmente oferecem educação de qualidade e quais conseguem converter seus alunos ao conhecimento. O mercado está sempre com vagas abertas e contratando esse tipo profissional.
Se tratarmos o Conhecimento como bem maior, fica nítida a percepção de que não adianta somente “passar de ano”, isso é secundário, uma formalidade, mesmo que necessária.
Os alunos de hoje, futuros ocupantes de um posto no mercado de trabalho, quando no exercício de suas funções, têm que demonstrar as competências e habilidades adquiridas durante sua escolarização, ambos imprescindíveis à manutenção de seu posto de trabalho e ao mercado de trabalho, cada vez mais exigente e competitivo.
Estive recentemente realizando palestras nas escolas de ensino médio da rede pública estadual de Marília, especificamente nos terceiros anos do ensino médio, para os alunos que estão se preparando para ingressar no ensino superior, (pelo menos é o caminho natural que deveriam seguir).
Durante a palestra lhes falava a respeito da cultura equivocada de nossos alunos, a respeito de sua postura frente às disciplinas que lhes são ministradas, entre elas o inglês e assim perguntava em sala: “Quem nesta sala teve aulas regulares de inglês durante todo o ensino médio? Levante a mão!”.
Todos, sem exceção, levantavam suas mãos, evidente que tiveram, a disciplina faz parte de sua matriz curricular. Em seguida lhes perguntava: “Quem aqui aprendeu inglês para conversar um pouco comigo? Permaneça com a mão levantada!!!”.
E não era uma surpresa pra mim que todas as mãos se abaixavam, vale dizer que, assim como na rede pública de ensino, o mesmo ocorre na maioria das escolas privadas, salvo, talvez, as que oferecem formação bilíngue.
A experiência que venho colhendo, desde 2009, juntamente com o Prof. Wilson de Matos Silva, Reitor do UniCesumar, mostra que a cada ingresso dos alunos em nossa Instituição, oriundos da rede pública e privada e, nessa conta, já se somam aproximadamente 28.000 alunos, 4.000 ao ano ao longo de 8 anos, essas mesmas perguntas vêm sendo feitas de forma sistemática, em palestras proferidas à todos os calouros de nossa Instituição. A cena é a mesma, mãos se abaixando.
Mas como tudo na vida existe uma exceção, em uma dessas palestras do Reitor, o auditório lotado, com aproximadamente 450 alunos ingressantes no ensino superior, feitas as clássicas perguntas, qual não foi a surpresa dele, tal como a minha, quando três mãos permaneceram levantadas.
Era a primeira vez que isso acontecia, imediatamente ele se dirigiu até onde estavam sentados os estudantes para indagá-los sobre qual instituição havia cumprido tão bem sua missão de ensinar a língua inglesa. Qual não foi nossa segunda surpresa: eram alunos da rede pública de ensino, mas não da rede brasileira, mas da escola pública de Moçambique.
Um país de língua portuguesa, destruído por duas intensas guerras civis, com quase metade da população analfabeta, todos de origem muito humilde, com inflação mensal em torno de 20%, sem saneamento básico, onde a expectativa de vida mal passa dos cinquenta anos e etc., etc., etc., Moçambique é considerado um dos países mais pobres do mundo.
Aqueles alunos, eram ingressantes pelo convênio que o UniCesumar mantém com o SOS África desde 2009, através do qual a Instituição lhes proporciona, bolsas integrais em Teologia na modalidade da educação presencial e mais um curso de graduação de sua escolha na modalidade da Educação a Distância.
O convênio subsidia integralmente sua moradia, alimentação e fornece uma “mesada” mensal para ajudá-los em suas demais despesas na cidade de Maringá. Em contrapartida, deverão retornar a seu País para serem missionários cristãos.
Nossos alunos não aprenderam adequadamente durante todo o ensino médio o inglês, a matemática, o português e todas as outras matérias ministradas. Apenas fizeram o suficiente para progredir de série escolar. Todos se deram por satisfeitos e ficaram imensamente felizes por terem recebido seus diplomas.
Eles chegam agora no ensino superior com um déficit de aprendizado fantástico que os prejudicará na construção de uma das etapas mais importantes da sua vida: a formação profissional.
Uma constatação lamentável deste cenário são os resultados apresentados pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016, uma publicação em parceira da Editora Moderna e do Movimento Todos pela Educação, em que apenas 27,2% dos jovens que concluíram o terceiro ano do ensino médio adquiriram proficiência em Língua Portuguesa e somente 9,3% em Matemática.
O déficit de conhecimento também é um dos causadores de outro problema grave, a Evasão do Ensino Superior, já que sem os conhecimentos prévios e que formam a base do aluno, este, quando chega ao ensino superior, se vê num “mar” de informações sem saber “nadar”.
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Texto com a colaboração e informações do Prof. Wilson Matos e Fátima Azevedo, Assessora da Reitoria do UniCesumar.