Dia Mundial da Água: temos o que comemorar?
Olá leitores do Marília Notícia!
No último dia 22 de março, diversos países comemoraram o Dia Mundial da Água, inclusive o Brasil. A data foi criada durante a Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) para promover a conscientização mundial sobre a importância do uso sustentável desse recurso e a necessidade urgente de conservar a água que ainda está disponível no Planeta.
Desde então, diversas ações são desenvolvidas no mundo todo a partir de um tema definido pela ONU Água (Interagência da Organização das Nações Unidas), que deve abordar problemas relacionados aos recursos hídricos.
Neste ano, o tema escolhido foi “Águas Residuais” como o foco das discussões. As águas residuais são descartadas ou reutilizadas após o uso em atividades humanas (indústria, comércio, residências e agropecuária) e também são conhecidas como “esgoto”.
As águas residuais podem ser reutilizadas para finalidades que não demandem alta qualidade, desde que recebam um tratamento adequado. A devolução dessas águas para meio ambiente também exige técnicas de tratamento para garantir sua qualidade antes de serem lançadas nos corpos hídricos sem causar danos à saúde e aos ecossistemas.
Segundo a ONU, apenas 20% das águas residuais geradas no mundo atualmente recebem tratamento. Os outros 80% são devolvidos à natureza causando poluição.
A Agência Nacional de Águas (ANA) estimou que em 2016 o Brasil gerou cerca de 1.065 m³/s de águas residuais, que foram relacionadas ao abastecimento humano urbano, irrigação, indústria, pecuária e abastecimento humano rural. Grande parte dessa água é descartada diretamente no solo, muitas vezes sem receber nenhum tipo de tratamento e por isso se torna indisponível para o reuso.
A Organização das Nações Unidas propõe ações que devem ser adotadas para evitar o desperdício de as águas residuais a partir do uso humano e que podem ser reaproveitadas em atividades que não exigem água potável, como sistemas de aquecimento e resfriamento.
Tais medidas evitam o desperdício e são consideradas fundamentais para a preservação deste recurso, pois, até 2030, as estimativas mostram que a demanda por água deve aumentar 50%. Isso significa que empresas, indústrias e empreendimentos de médio a grande porte devem aumentar seus esforços e investimentos para melhorar os sistemas de coleta e tratamento de águas residuais e garantir seu reaproveitamento.
Além da questão do aproveitamento das águas residuais, outros tipos de problemas são relacionados aos recursos hídricos, inclusive nos países desenvolvidos. Além do uso indiscriminado e o desperdício pela população e indústrias, outros fatores contribuem para sua escassez e perda de qualidade, como a poluição por resíduos sólidos, contaminação por esgotos urbanos, efluentes industriais e produtos químicos, má distribuição, dificuldade de acesso e falta de abastecimento adequado, entre outros.
A poluição é um fator de grande preocupação, pois é responsável por tornar a água imprópria para o consumo e favorece a disseminação de diversos tipos de doenças. Cerca de 20% da população mundial não tem acesso à água limpa e, segundo a UNICEF, cerca de 1400 crianças menores que cinco anos de idade morrem todos os dias devido à falta de água potável, saneamento ambiental e condições mínimas higiene.
Muitos pensam que temos água em abundância, mas na verdade enfrentamos atualmente uma grave crise de abastecimento. Estima-se que cerca de 800 milhões de pessoas não têm acesso a água no mundo e a perspectiva para o futuro é de maior escassez.
A falta de água também afetará a produção agrícola e industrial, o que pode também acarretar impactos relevantes na economia mundial. No Brasil, conhecemos as histórias do sertão do Nordeste que sofre com a falta de água.
Nos últimos anos, o problema está acontecendo também em outras regiões, inclusive no interior de São Paulo onde a população já está sendo submetida a um rodízio rigoroso de água. Em alguns bairros de São Paulo, a população já convive com a torneira seca por muitas horas. Em breve, a população deverá enfrentar um rigoroso racionamento e poderá ficar quatro ou até cinco dias por semana sem água.
Diversos fatores são responsáveis pela falta de água: o descuido com as fontes e nascentes de água, o desmatamento e a perda de florestas, a pecuária, a falta de investimento das empresas para evitar desperdício e a gestão inadequada pelo Poder Público, que tratou a água como fonte inesgotável quando já sabíamos que era cada vez mais escassa.
A relação entre a preservação das florestas e a produção de chuva já está comprovada através de muitos estudos científicos. O desmatamento interfere de forma negativa no ciclo da água.
A Amazônia, por exemplo, transpira bilhões de toneladas de vapor de água para a atmosfera diariamente. Essa umidade é responsável pela formação dos chamados “rios voadores”, que são carreados através do vento para outras regiões do País e contribuem para a irrigação na agricultura e aumentando os níveis dos reservatórios de água. As estimativas apontadas pelos estudos científicos indicam que episódios de seca serão cada vez mais frequentes e intensos com as mudanças do clima. Portanto, preservar as florestas é importante também para a produção de chuva!
Além de todos os fatores já mencionados, um dos principais contribuintes para o esgotamento e poluição da água é a pecuária. Esta atividade é considerada a maior consumidora deste precioso recurso.
Os estudos mostram que para produzir um quilo de carne bovina, cerca de 16 mil litros de água são utilizados. A pecuária também contribui de forma significativa para a degradação dos recursos hídricos pelo descrate de medicamentos como hormônios, antibióticos, antiparasitários, pesticidas, fertilizantes e dejetos de animais.
Deve-se considerar também no cálculo do consumo de água para a pecuária as plantações de soja que são destinadas para a produção de ração dos animais. Conforme o consumo de produtos de origem animal aumentar, a influência da atividade pecuária sob os recursos hídricos também tende a crescer.
Devido à importância da água para a nossa sobrevivência, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou em 2010 através da Resolução A/RES/64/292, que a água limpa e segura e o saneamento básico são direitos humanos. Portanto, água de qualidade e o saneamento básico passaram a ser um direito garantido por lei.
A legislação ambiental brasileira está se tornando cada vez mais rígida em relação ao uso e preservação da água. O governo deve implantar medidas sérias e investir para melhorar a distribuição e o armazenamento de água, assim como as empresas estão sendo obrigadas por lei a implantarem sistemas de captação e reuso, além de programas de redução de desperdício e conscientização de seus funcionários.
A população deve colaborar reduzindo ao máximo seu consumo em casa e utilizando sistemas de captação e reuso de água de chuva, por exemplo. Além disso, todos devem se informar sobre os fatores que estão contribuindo para a escassez da água e a degradação dos recursos hídricos e repensar seu modo de consumo.